18 de julho de 2013

Entreter, mas longe do ecrã

Há uns tempos dei com um livro sobre como arranjar tempo para ter uma profissão freelance quando se é mãe e se cuida dos rebentos em casa. Chama-se "Mom, Inc." e falam sobre ele aqui. Não o comprei na altura nem acho que faça sentido no meu caso e lembro-me de ter pensado que era um pouco disparatado haver necessidade de escrever um livro sobre isto. Quem quer ter uma profissão, que ponha os filhos na creche, ora. Mas compreendo que, em início de carreira para quem está a tomar conta dos filhos há muito tempo (a realidade americana é algo diferente da nossa), se opte por não aumentar as despesas, p. ex., com o infantário, antes de o negócio começar a dar frutos. Logo, há que estabelecer regras e rotinas para conseguir trabalhar com a criançada em casa.

Esta semana fiquei em casa com a minha filha com varicela. Não tinha propriamente trabalho para fazer, tirando as fantásticas tarefas da lida da casa, mas mesmo assim percebi que requer bastante criatividade e paciência entreter uma criança de 2 anos o dia todo sem sair de casa (entreter bebés é outra coisa completamente diferente). Se ela pudesse sair de casa, seria fácil: íamos ao parque, íamos passear, íamos almoçar com o pai ou mesmo ao supermercado. Mas atacada como ela ficou não seria nada aconselhável sair de casa nos primeiros dias e, depois de passar a febre, a miúda estava com toda a energia típica de uma criança de tenra idade e era preciso canalizá-la para algum lado. 


Nos dois primeiros dias de convalescença, deixámo-la ver todos os bonecos e filmes que quis no iPad e foi com consternação que reparámos que, deixando-a, ela é capaz de ficar o dia todo agarrada ao ecrã. Mas assim que começou a ficar mais bem-disposta, tratei de limitar o iPad para situações concretas em que precisava de a ter sossegada ao pé de mim, como quando queria tomar duche ou fazer o almoço.
No resto do tempo, eu e a cachopa andámos sempre a fazer coisas: pintámos no papel, pintámos em madeira, pintámos conchinhas e pedras do mar, fizemos colagens, demos banho às bonecas, brincámos às compras com dinheiro de brincar que encontrei como por milagre e lemos todas as histórias que ela quis. Mas, fora isso e os cuidados diários a ter com a varicela (banhos com amigo de milho (!), creme nas borbulhas 53 vezes por dia, ver a febre, impedir que se coce, etc. etc. etc.), eu não fiz mais nada. Se tivesse de trabalhar, teria de aproveitar a hora da sesta (mas porque não aproveitar e dormir com ela??). Confesso que fiquei mais cansada do que se tivesse sido um dia normal de trabalho/creche. Especialmente porque a miúda já argumenta, já negoceia, já resmunga e refila, desafia-nos sempre que pode e andou com tão pouco apetite que era um esforço meter-lhe qualquer coisa à boca.
É sempre nestas alturas em que sinto a máxima admiração por todas as mães solteiras e todas as stay-at-home-moms que têm de ter diariamente doses industriais de paciência e um sistema de organização de tarefas e gestão do tempo que a mim me parece obra de Super Mulher. Respect!

(Cinco dias depois voltei ao trabalho, ela foi para a avó acabar de convalescer e eu tento não me sentir demasiado contente por me poder deitar no sofá a ler um livro descansada às seis da tarde...)

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