5 de julho de 2013

No mundo tramado das mulheres

Ora, então, temos mais uma menina. A parte do reaproveitamento de roupas, brinquedos e mobília está facilitada, assim como está resolvida a questão logística do quarto e do tipo de camas que vamos comprar agora que a primogénita está prestes a ser promovida para uma cama de crescido.
Por outro lado, confesso que, quando o ecografista me perguntou se conseguia ver, estive tanto tempo à procura da pilinha, que quando respondi "É uma menina", foi a medo. É que a pilinha podia estar escondida! Mas não estava, porque não havia pilinha ("É uma rapariga! Então mas não se vê logo? Ai, ai, ai...). E se é verdade que fiquei contente à mesma, especialmente por saber que ela tem todos os dedinhos dos pés no sítio (o que interessa é vir com saúde, já diz a minha avó!), também é verdade que ficava muito contente se fosse um menino. Não é só o desejo do desconhecido. Já sei o que é ter uma menina, já tenho a quem pôr lacinhos e vestidinhos e com quem brincar aos Pin y Pons e a quem explicar daqui a uns anos o que é o período. Já agora que vou ter outro, gostava de saber o que é ter um menino. 
Mas vai muito para lá da curiosidade básica. Provavelmente, isto vai parecer uma grande estupidez, mas afigura-se-me mais fácil conseguir multiplicar o amor por duas criaturas de sexos diferentes. É como se, por serem menino e menina, tivessem de ser naturalmente diferentes (e não estou só a falar dos órgãos reprodutores) e fosse mais fácil e justo amá-los com equidade, apesar das suas características tão "diferentes". Além de que a intrínseca competição feminina que começa logo inconscientemente na gravidez com o mito "é menina se a mãe ficar feia grávida, pois a filha está a roubar-lhe a beleza" desempenha um papel tramado.
Eu sei, isto é um grande disparate. Mas venho de uma família de mulheres que tiveram filhas mulheres que tiveram filhas mulheres, cuja educação foi, em todas as gerações, marcada por resquícios de uma educação matriarcal menos positiva e que acabou por culminar em irmãs que deixaram de falar com irmãs e mães que deixaram de falar com filhas e filhas que deixaram de falar com mães (são coisas diferentes!) e que, consequentemente, sempre foram mais chegadas aos pais, aos maridos, ao avô, ao gato, desde que fosse do sexo oposto. 
Por isso, acho que sempre tive um pânico secreto de ter só filhas porque, pensava eu, inevitavelmente a nossa relação iria ser conflituosa, difícil ou chocante. Afinal está-nos nos genes e só um rapaz teria a capacidade de quebrar a corrente. E acalmar a histeria (imaginem uma casa só de filhas antes de um concerto de Justin Bieber... credo...).
Mas a verdade é que a minha ainda primogénita filha me adora. Ainda me prefere a mim, é ainda a mim que ela chama à noite, é ainda comigo que ela prefere estar. O pai sabe disto, admite isto, não há muito que ele possa fazer (porque também sabe que não vai ser sempre assim), mas até gosta que assim seja porque sabe que esta ainda preferência em muito ameniza as minhas inseguranças de mãe. E mesmo que eu lhe ralhe mais bruscamente um dia, ou lhe dê uma palmada a sério, como já aconteceu uma vez, mas não é coisa para repetir muito, ela sabe que, no quadro geral, eu não sou má mãe, não sou cruel, injusta, ressabiada, controladora, dependente. Ela sabe. Eu sei. Por enquanto. O meu problema é como serei com duas daqui a uns anos, como o modo como eu sou com elas, em conjunto e individualmente, terá repercussões na sua relação uma com a outra, como me conseguirei manter justa e fiel aos meus princípios quando me começar a identificar mais com uma do que com outra, porque uma é mais dócil comigo, mas a outra é mais parecida comigo. 
Oh, tarefa ingrata. É claro que não estou só. O pai, vindo de uma background completamente diferente, ajuda-me e vai continuar a ajudar-me a ser a mãe que quero ser e não a cingir-me ao único molde de mãe que conheço. E eu vou tentando melhorar a cada dia que passa e não ficar demasiado presa às expectativas. 
Cinjamo-nos, primeiro, à complexa tarefa de escolher o nome, que já não está a ser nada fácil. Será que não é possível esperar pelo parto, olhar para a cara dela e dizer logo "Olha, afinal tem mesmo cara é de Pancrácia!"? O assunto ficava logo arrumado, que mania esta de complicar...

3 comentários:

  1. Olha que eu acredito que se fosse um menino irias continuar a ter essas dúvidas! Só que aí não era por uma ser mais parecida contigo... aí era se não estarias a fazer diferença por uma ser menina e o outro menino! Acho que qualquer mãe/pai pensa essas coisas ou tem esse tipo de dúvidas quando tem mais do que 1 filho!
    Já agora, com esse teu historial familiar feminino, se pensares em ir ao terceiro em busca do menino... pensa bem, porque esse tipo de coisas costuma ser genético e conheço boa gente que acabou por ter uma casa cheia de mulheres! Eu resignei-me, muita gente me pergunta se vamos tentar a menina, mas com a predominância de homens no lado da família do Jorge... achámos por bem ficarmos por aqui ;-)

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  2. Já agora... Pancrácia é um belo nome ;-)
    E porque não Felizarda? a minha avó paterna era Felizarda!
    Beijinhos

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