12 de janeiro de 2014

Menina de vidro

Domingo de chuva. O homem vai à bola e eu fico, pela primeira vez, sozinha com as duas durante mais de duas horas. Corre bem. Jogamos uns legos, vemos um filme, lemos umas histórias, fazemos um bolo. Actividades suficientes para um dia inteiro, mas ainda só são quatro e meia. Depois sesta. Corre bem. Adormece depressa, aninhada em mim, o barulho da chucha a funcionar como uma espécie de ruído branco que me embala até ser tempo de acudir à mais nova.
Ainda de pijama penso que dava tudo para me enroscar no sofá a ler um livro, mas por estes dias o meu conceito de descanso é pôr a bebé à mama e conseguir equilibrar um livro no braço livre. Corre bem. A bebé volta a pegar no sono rapidamente e eu posso, enfim, pôr-me mais ou menos confortável e pegar num livro. Decido não desperdiçar o silêncio com thrillers de meia tigela e revisito o México da Alexandra. Antes de me afundar na leitura, volto a pensar na mais velha e em como com apenas três anos já fracturou o ombro e torceu o joelho. Em menos de seis meses o histórico de visitas ao hospital daria uma bela história de suspeita de maus tratos. A rapariga cai muito, o que quer que lhe faça, ainda no outro dia estava aos saltos na cama e caiu de cabeça no meio do chão. Juro que acudi de imediato, Senhora Assistente Social, mas se quiser venha cá a casa um dia destes, toma um cházinho e vê com os seus próprios olhos que por aqui é só mimo e muito azar. Quais são as probabilidades de a miúda saltar em insufláveis duas vezes por ano, uma vez na Nazaré no Verão e outra ontem numa festa de anos, e numa delas fazer uma entorse? Azarinho, é o que lhe digo.
Mas venha antes amanhã que hoje ainda não lavei as remelas. E, sobretudo, há este silêncio precioso que tenho de aproveitar antes que qualquer uma delas acorde. E o livro, e o livro.

 

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