É preciso dizê-lo com sinceridade: ser freelancer nem sempre é pêra doce. Tudo é muito bonito quando conseguimos organizar o nosso horário e sair às 11 da manhã para ir fazer o buço ou marcar férias para quando nos apetecer sem ter de pedir autorização a ninguém. Mas quando o trabalho aperta, como tem sido nas últimas três semanas, não só não há tempo a perder com coisas que não sejam indispensáveis, como a vida pessoal e familiar acaba por levar por tabela. No entanto, aceitar os trabalhos que nos pedem é, muitas vezes, uma decisão ponderada, muito mais do que uma questão de sobrevivência.
Há vários factores a ter em conta, como a relação custo/benefício, que foi uma das poucas coisas que retive da aula de Economia na pós-graduação de Tradução Económica, talvez por todos os meses lhe achar um sentido prático: será que o retorno financeiro que este trabalho me vai proporcionar compensa os sacrifícios pessoais que vou ter de fazer para o executar? É a tal história do tempo e da liberdade que o dinheiro não compra. Estou a falar, no meu caso em concreto, de três fins-de-semana seguidos em que passo, pelo menos, o sábado a trabalhar, em que cancelo encontros de amigos, em que falto a almoços, em que mando as miúdas para a avó ou com o pai para o centro comercial... As pessoas dizem-me: ser freelancer é assim, tens de aproveitar o trabalho enquanto há. É verdade, principalmente no início, como eu, que ainda nem fez 6 meses que trabalho por conta própria. E mesmo quando tentamos organizar as coisas de modo a meter todo o trabalho durante a semana, há sempre que contar com os imprevistos, com as falhas técnicas, com os programas que empancam, os computadores que avariam. Esta semana, por exemplo, vi-me obrigada a trabalhar no sábado, hoje, porque perdi a tarde de quinta e a manhã de sexta com problemas técnicos. Mas o que me irritou mais nem foi isso. O que me irritou mais foi ser por causa de um trabalho que aceitei sem saber porque o fiz. Aceitei um dos tipos de tradução por causa dos quais me despedi, num software que odeio sobre um tema que odeio, ao preço mínimo aceitável. Estariam reunidas todas as condições para recusar o trabalho. A acrescer a isto, este mês já estou financeiramente relaxada e não precisaria de fazer fretes para pagar as contas. É claro que nunca sabemos como será o mês seguinte e nunca se diz que não a um extra a que recorrer quando o trabalho falta.
Mas aceitei o trabalho quase sem pestanejar. E porquê, perguntam vocês? Primeiro porque tenho o cliente em grande estima. É um cliente que me conhece há bastante tempo, sabe como trabalho, confia em mim e eu, por minha vez, confio nele, conheço a mecânica da casa e sei que pagam a horas. É uma situação win-win e, por vezes, há que fazer alguns fretes para manter os clientes satisfeitos. Mas, em parte, foi também por burrice pura que aceitei o trabalho. É que me arrependi logo porque antevi três dias de grande frustração. Além disso, quando aceitei o trabalho com prazo para terça de Carnaval, esqueci-me que as miúdas não têm escola na terça de Carnaval, logo, teria de terminar o trabalho antes. Quando começaram os problemas técnicos, então, toda eu bufava, porque o trabalho se estava a empurrar exactamente para o dia em que não podia trabalhar. E isto fez-me pensar muito ali na tal questão da relação custo/benefício e em algumas regras básicas para aceitar traduções. São elas:
Há vários factores a ter em conta, como a relação custo/benefício, que foi uma das poucas coisas que retive da aula de Economia na pós-graduação de Tradução Económica, talvez por todos os meses lhe achar um sentido prático: será que o retorno financeiro que este trabalho me vai proporcionar compensa os sacrifícios pessoais que vou ter de fazer para o executar? É a tal história do tempo e da liberdade que o dinheiro não compra. Estou a falar, no meu caso em concreto, de três fins-de-semana seguidos em que passo, pelo menos, o sábado a trabalhar, em que cancelo encontros de amigos, em que falto a almoços, em que mando as miúdas para a avó ou com o pai para o centro comercial... As pessoas dizem-me: ser freelancer é assim, tens de aproveitar o trabalho enquanto há. É verdade, principalmente no início, como eu, que ainda nem fez 6 meses que trabalho por conta própria. E mesmo quando tentamos organizar as coisas de modo a meter todo o trabalho durante a semana, há sempre que contar com os imprevistos, com as falhas técnicas, com os programas que empancam, os computadores que avariam. Esta semana, por exemplo, vi-me obrigada a trabalhar no sábado, hoje, porque perdi a tarde de quinta e a manhã de sexta com problemas técnicos. Mas o que me irritou mais nem foi isso. O que me irritou mais foi ser por causa de um trabalho que aceitei sem saber porque o fiz. Aceitei um dos tipos de tradução por causa dos quais me despedi, num software que odeio sobre um tema que odeio, ao preço mínimo aceitável. Estariam reunidas todas as condições para recusar o trabalho. A acrescer a isto, este mês já estou financeiramente relaxada e não precisaria de fazer fretes para pagar as contas. É claro que nunca sabemos como será o mês seguinte e nunca se diz que não a um extra a que recorrer quando o trabalho falta.
Mas aceitei o trabalho quase sem pestanejar. E porquê, perguntam vocês? Primeiro porque tenho o cliente em grande estima. É um cliente que me conhece há bastante tempo, sabe como trabalho, confia em mim e eu, por minha vez, confio nele, conheço a mecânica da casa e sei que pagam a horas. É uma situação win-win e, por vezes, há que fazer alguns fretes para manter os clientes satisfeitos. Mas, em parte, foi também por burrice pura que aceitei o trabalho. É que me arrependi logo porque antevi três dias de grande frustração. Além disso, quando aceitei o trabalho com prazo para terça de Carnaval, esqueci-me que as miúdas não têm escola na terça de Carnaval, logo, teria de terminar o trabalho antes. Quando começaram os problemas técnicos, então, toda eu bufava, porque o trabalho se estava a empurrar exactamente para o dia em que não podia trabalhar. E isto fez-me pensar muito ali na tal questão da relação custo/benefício e em algumas regras básicas para aceitar traduções. São elas:
1 - Nunca negociar prazos sem ter a agenda à frente, especialmente ao telefone, enquanto estamos a caminho de ir pôr as miúdas à escola. São distracções mais do que suficientes para dizermos que sim irreflectidamente.
2 - Nunca aceitar uma tradução sem ver o original primeiro. Quando me disseram que era um catálogo, pensei que podia ser um catálogo com descrições de produtos, com um registo algo comercial e frases publicitárias, coisa que até nem me desagrada muito. Mas não me disseram que era um catálogo daqueles só com listas de produtos e descrições crípticas e abreviadas, sem perceber se pedem o plural, o feminino, o masculino ou o quê. E isso é coisa para, além de exasperar, levar o dobro do tempo. Tempo que já não temos porque não olhámos para a agenda...
3 - Se me disserem que é para usar um determinado tipo de programa que eu odeio, é meio caminho andado para recusar o trabalho, educadamente, com outra desculpa, mas recusar. Nem sempre temos de fazer fretes. Afinal, despedi-me exactamente para não ter de fazer fretes destes, certo? Pois.
4 - Quando, apesar de tudo isto, aceito o trabalho, pois então paciência. Tenho de me aguentar, desenrascar e entregar um trabalho irrepreensível. Acima de tudo, temos de ser profissionais.
5 - Se se aplicar o ponto 4, aplica-se também a lei da recompensa: tirar um dia, uma semana, o resto do mês de folga.
Posto isto, estou seriamente a pensar não aceitar mais nada para além dos trabalhos que já me foram atribuídos este mês e que já me vão dar que fazer, mas não me vão obrigar a trabalhar fora de horas. Queria ver se ainda acabava o quilt da Inês este mês... tenho tudo pronto para o acabar numa tarde de costura... Vou mesmo convencer-me de que isso é mais importante para a minha sanidade mental do que passar mais um sábado a trabalhar...
Porque nem tudo são más notícias, a ver se em breve escrevo sobre as coisas boas de ser freelancer. Porque as há e não são poucas. Valha-nos isso.
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