26 de fevereiro de 2013

Na boca do crocodilo

Retirado daqui.

Val.nom.est.ar compr."Esper.p/peç"

Até parece latim, mas não é. Isto foi o que resultou da tradução de uma frase completa, originalmente em alemão, depois de aplicar a delimitação de caracteres imposta pelo cliente, esse ser estranho e maniento. O processo para verificar a delimitação é bastante moroso, pois implica que aplique a fórmula em cada célula individual, sendo que, para este trabalho em concreto, estamos a falar de, em média, largas centenas de células por ficheiro. São 8 ficheiros. O maior deles tem 2832 linhas.
Mas prometo terminar este texto antes de dar um tiro na cabeça.

E quem vai ler, ou melhor, perceber uma frase destas? Pois, não sei. Nem sequer sei em que visor de que maquineta é que é suposto isto aparecer. Provavelmente uma embaladora de garrafas ou uma máquina de termocolagem, que é o que me costuma calhar na rifa.

Isto é o meu trabalho,  a maior parte das vezes. Não é tradução. É contagem de caracteres e invenção de abreviaturas. De vez em quando lá aparece uma tradução médica, que eu adoro, ou a revista bimensal de arquitectura, onde costumo atingir o nirvana. Mas as traduções que exigem que mais puxe pela cabeça são as que têm prazos mais (ridiculamente) apertados, ou seja, mais propensas a causar crises de stress. Lá se vai o nirvana.

Muitas vezes me pergunto porque é que ainda não mudei de emprego. Uma vez por ano costumo ter uma grande crise profissional-existencial, longas conversas com o homem da casa que me faz sempre ver porque é que eu tenho um trabalho e uma vida espectaculares, mas, nunca acreditando nele, lá vou eu a uma ou duas entrevistas. Mas nunca nada que me encha as medidas. Porque, na verdade, eu não sei o que fazer para além disto. E porque há sempre a esperança (e a possibilidade) de fazer, nas horas vagas, uma tradução jurídica ou de carácter empresarial. E disso eu gosto e nem sinto o passar do tempo. E depois há os meus chefes. Que são, possivelmente, os chefes mais porreiros do mundo. E o facto de trabalhar em casa. Se eu fosse trabalhar para outro sítio, como raio é que poderia fazer máquinas de roupa à hora de almoço?

De qualquer maneira, é nestas ocasiões em que costumo pensar naqueles trabalhos que ninguém quer ter, para me dar algum ânimo nos dias em que só me apetece chorar e dar murros no Excel. Esta lista é um bom exemplo dos piores trabalhos do mundo. Mais sugestões para incluir no post-it a colar no ecrã ao 14º dia de desânimo?


P.S.- E dispenso comentários do género "Ao menos tens trabalho". Como me disse uma amiga há pouco tempo, não temos de gostar do trabalho que temos e não é por outros estarem no desemprego que temos de dar graças diárias por fazermos aquilo de que não gostamos. Eu gosto do que faço. Dois dias por mês. Por isso, nos outros 20 dias costumo sonhar em ter dinheiro para me poder dedicar àquilo que realmente me dá prazer. Que é? Ah, isso agora.

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