24 de novembro de 2014

Logo se vê

Já comecei um post a falar sobre o primeiro aniversário da Alice, que já passou, e em como ela já tem grandes conversas connosco, mesmo sem ninguém perceber o que ela tanto diz, ou como ela já levanta o pé para lhe calçar o sapato ou ainda como ela gosta de fugir de mim, de rabo desfraldado, na hora de vestir. Acabei por desistir. Depois comecei um post a contar tudo sobre o calendário do advento que estou a costurar e sobre ideias não comestíveis para colocar no calendário que agradem à Inês e não lhe provoquem cáries. Mas isso coincidiu com mais um ciclo de terrores nocturnos da mais velha que têm tornado as nossas noites numa viagem pelo comboio fantasma, quando ele ainda era imprevisível e metia respeito. Acabei por desistir. Depois comecei outro post sobre qualquer coisa tão importante que já não me lembro o que era. Acabei por desistir.

A verdade é que não sei que rumo dar a este blogue. Se por um lado nunca ninguém cá vem e quando vem, raramente comenta, o que me podia dar a liberdade para falar livremente, por outro lado sei que me lêem pessoas com quem não me apetece partilhar certas coisas. Já vi blogues acabarem por menos. E depois há a questão do tempo, que não sei como certa gente faz, com filhos e trabalho que é o que, vai-se a ver, me sucede a mim, para ainda arranjar tempo para escrever três posts por dia. Se eu já nem três posts por semana... Já lá vai o tempo em que me aborrecia no trabalho e roubava o tempo às traduções para escrever umas linhas aqui, umas linhas ali. Agora cá vai o tempo em que não me apetece roubar tempo nem às traduções, nem ao ginásio, nem às filhas, nem ao sono para escrever umas linhas onde quer que seja. Já vi blogues desfalecerem por menos. E depois é esta mania que a malta tem de ter blogues para se mostrar ao mundo, olhem tudo o que eu faço e roam-se de inveja da minha vida pastel e das minhas festas de aniversário tão Pinterest e da mãe espectacular que sou e das coisas giras que faço ao fim-de-semana e da puta que o pariu que são tão fixes que metem nojo. Porque eu não sou fixe, a minha vida mete formigas e chuva a entrar por baixo da porta, tenho sempre a casa desarrumada e o cabelo preso num elástico porque odeio o corte, o meu fim-de-semana é muitas vezes passado a pensar na segunda-feira de manhã em que volto a ter a casa em silêncio, despedi a mulher a dias mas menti-lhe porque não tive coragem de lhe dizer que ela não sabe limpar, e, agora é que são elas, sou uma péssima mãe que não sabe lidar com uma criança que não adormece e que às vezes se esquece de fazer sopa para a mais nova. Até este post estou a escrever, só com uma mão, com a mais nova enrolada no meu colo entre ranho e dentes, vejam lá até onde se estende o glamour.

Mas se calhar é disto que a malta gosta, de vidas sem glamour. Talvez para se poderem sentir acompanhados (riso maquiavélico).

Sinto-me desencantada com este blogue, essa é que é essa. Acabar este e começar outro para fugir às pessoas seria mais infantil do que despedir a mulher-a-dias e não lhe dizer a verdadeira razão por que o faço. Acabar este e começar outro para fugir a mim mesma também seria estúpido porque a Polliejean não pode ir para lado nenhum. Por isso, não estranhem se deixarem de me avistar por uns tempos. Mas também não estranhem se continuar a escrever com a mesma (ir)regularidade por uns tempos. Porque como não sei o que fazer, é ir andando ao sabor da (des)vontade.

É mais ou menos assim: logo se vê.

7 comentários:

  1. Acima de tudo sê verdadeira contigo própria! Eu gosto de ler aquilo que escreves, sem floreados! És uma mulher real com as merdas da vida real! Partilha isso! Eu gosto de ler, identifico-me e conforta-me saber que não sou a única a passar dias do cacete com vontade de mandar isto tudo para um sítio bem feio!

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  2. eu gosto de te ler. e gosto de ti. e, mesmo tendo uma vida diferente da tua, sem filhos e sempre com a correria que um emprego numa empresa gigante como a minha tem, divirto-me muito com o que escreves. e identifico-me com a falta de glamour dos meus dias... olha, vai-se a ver e temos alguma coisa em comum. ;)
    beijinho

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  3. Eu gosto de te ler. Com ou sem o ranho da Alice venho sempre aqui! :)

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  4. Ufa!!! Pensei que ia mesmo acabar, pois eu adoro "passar" por aqui.
    Bjs

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  5. Eu adoro ler-te, aprecio o teu humor e identifico-me com tantas coisas (apesar de não ter filhos...), incluindo aquela frase ali das vidas pastel, tom que parece atravessar (quase) toda a blogosfera...
    E também já me senti desmotivada com o meu blog (e recomecei noutro) e os meus anos - já posso dizer anos, e, se bem me lembro, tu ainda mais - nestas coisas ensinaram-me que o nosso blog tem que ser para nós. Eu faço-o para me disciplinar, para praticar uma série de coisas, para desabafar e também para partilhar, porque é algo que me é essencial.
    Sempre senti que o teu blog era/é muito tu, apesar de ainda não nos termos conhecido. Se escreves todos os dias, ou só de vez em quando, não me importa. Gosto de te ler...

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  6. Eu continuo a vir aqui, mesmo que não diga nada. Comento menos, mais ou menos pelas mesmas razões que tu, mas venho vindo. Na verdade escrevo cada vez menos comentários nos blogues que leio porque só consigo lê-los uma ou duas vezes por semana, e acho que ninguém quer ler comentários a posts escritos há mais de dois dias. (Isto hoje calhou eu ler o post do dia, mas foi sorte!)

    E a escrita, é complicado. Precisa de tempo, precisa de alguma inspiração, precisa de algum sossego. E mesmo naqueles momentos em que estou a (finalmente) escrever um post, se alguém me pergunta o que estou a fazer - que este teclar rápido e duradouro não acontece assim tão frequentemente - é como se me rebentasse a bolha, e estraga-me o fim do post. Ou o meio, ou até o post todo, dependendo da fase em que estava. Hoje em dia, o blog vai saindo às pinguinhas.

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  7. É preciso uma pessoa ameaçar que se vai embora para ter 6 comentários de uma assentada! Tenho de fazer isto mais vezes...

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