27 de março de 2012

Amores antigos

E eis que, a meio do sprint para o avião, atrasadíssimos como estávamos (atrasados do estilo tens-20-minutos-para-ir-buscar-o-cartão-de-cidadão-a-casa), chego aos detectores de metais e dou de caras com a minha paixão dos 16 anos.

Nunca mais o tinha visto, mas não me espantou que ali estivesse, com farda de segurança a avançar os tabuleiros. Não sei dizer porquê. Acho que é o despeito a falar por nunca me ter ligado nenhuma.
Quando me mandou tirar o cinto tenho a certeza que me reconheceu. Não que tenhamos sido grandes amigos, nada disso. Fomos apresentados à moda dos anos 90: um amigo apresentou-me a um amigo que por sua vez tinha um amigo que o conhecia.
Depois de aprender de cor os seus horários, sentava-me na estação à espera de ver a gadelha preta a esvoaçar e depois armava o teatrinho de quem vai mesmo apanhar aquela camioneta, mesmo que me desse mais jeito apanhar a outra.
Levei meses nisto. Meses ansiosa por trocar com ele mais do que um banal "Tudo bem?", mais do que uns olhares que raramente eram correspondidos, mais do que um encontro fugaz na estação de camionetas.
Tantas horas perdidas naquelas escadas para nunca, nunca ter tido o mais ínfimo sinal de que a minha paixão assolapada era correspondida.
Por fim, fui para a faculdade e logo o esqueci. Haveria de ter outras paixões assolapadas que me machucariam muito mais e logo me fizeram esquecer essa.
Nunca mais o vi. Ou talvez o tenha visto, mas não me lembro, o que justifica a minha afirmação.
Até há duas semanas.

E o que fiz eu? Tirei o cinto, pu-lo na bandeja e passei no pórtico.
E o que senti eu? Uma imensa vontade de desatar a correr para apanhar o avião.

E consegui. Apanhar o avião com o amor da minha vida, que não tem uma gadelha esvoaçante nem gosta de Ratos do Porão (graças a deus...), mas que, por outros motivos de índole mais "despistada", também me faz esperar nas escadas do aeroporto.
Há aqui um padrão...

2 comentários:

  1. Engraçado não é? Como aos 16 anos somos capazes de achar que aquele que nem olha para nós é o amor da nossa vida, que o facto de ele não nos ver é a pior desgraça do mundo, que somos umas infelizes que nunca vamos ser felizes sem ele e que fazemos as maiores parvoíces do mundo por um tipo borbulhoso, cabelo e com pouco mais que pêlos púbicos na cara. Enfim…. Espero que ele estivesse feio, barrigudo, com um ar de infeliz e acabado :) CCarrinho

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  2. Pelos públicos na cara?? eheh
    Sim, tinha perdido qualquer charme que eu pudesse achar que ele houvera tido na antiguidade...

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