10 de outubro de 2012

Traumas

Quando vejo fotos destas e destas sou assolada por um feio sentimento de inveja e ponho-me a sonhar acordada com vastos campos cheios de flores e produtos hortícolas e ovelhinhas a quem daria muito amor e nunca encostaria um cutelo ao pescoço, por onde poderia saltar e correr e deitar-me nos prados a comer flores mijonas, mas depois lembro-me que em vastos prados há, normalmente, gafanhotos e outras criaturas saltitantes, e oiço o som da agulha do gira-discos a rasgar no vinil e da ficha a cair e foge-me o sorriso parvo da cara.
É sobejamente conhecido o meu pavor por gafanhotos. Há pouco tempo descobri, por meio de uma pessoa entendida, que o que eu tenho não é fobia, mas sim trauma, o que facilitaria em muito a "cura", mas isso em nada reduziu os meus suores frios de cada vez que piso um descampado.
Ainda este fim-de-semana, no Alentejo, onde há imensos gafanhotos (eu descubro-os sempre, mesmo que não haja!), desenvolvi um mantra que me permitisse não desatar a gritar perto da minha filha para que ela não percebesse já a mãe maricas que tem e não desenvolva os mesmos medos parvos que eu. Resultou. Consegui saltar-correr durante 10 metros cheios de mini-saltitões nojentinhos. Mas o mantra valeu-me uma risada do pai da minha filha (que me vai gozar comigo durante um tempo indeterminado) e a curiosidade da pirralha que percebeu o nervoso na voz: Mamã? Ou, como quem diz, o que é que se passa contigo?

É, por isso, que eu sei que nunca hei-de poder viver no campo. É impossível conseguir deitar-me na relva sem uma manta de dez metros e sem examinar muito bem a área circundante, mantendo a devida distância. É impossível conseguir abrir uma couve sem ter medo que salte de lá um bicho (como já me aconteceu, sim??). É impossível meter a mão no meio das hortaliças. Impossível. E o pavor que já tenho das minhas férias em África já daqui a três semanas, apesar de toda a gente me garantir que em Moçambique há de tudo, menos gafanhotos? As pessoas são umas queridas, mas eu sei que vou ter vários encontros imediatos com gafanhotos de meio metro. Eu sei, tá?

Agora, o que eu não sei é para que é que ando eu a telefonar, todos os meses, para a Câmara de Oeiras a perguntar quando é que, finalmente, vão inaugurar o raio da horta urbana prometida para Maio para a minha zona de residência. Devo ter ensandecido!

1 comentário:

  1. hahahahah Já deste meio caminho no sentido da cura Monia! Força aí!

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