28 de dezembro de 2012

A tia

Ia começar por dizer que este Natal foi diferente, mas os parágrafos imediatamente a seguir são capazes de o desmentir. Comi a mesma quantidade imbecil de comida e gastei a mesma quantidade imbecil de dinheiro em presentes (sim, fui eu que fiz as prendas e consegui fazer todas as que me propus, mas no último instante fui assolada pela sensação igualmente imbecil de que não chegavam), andei de um lado para o outro como uma barata tonta, almoço aqui, jantar ali, lanche acolá, porque a família já vai sendo uma só família muito grande e está espalhada num raio de 80 km, o que, podendo ser pior, é uma distância demasiado longa para percorrer na madrugada do dia de Natal, nós e mais 3 milhões de portugueses. Mas ia dizer que este Natal foi diferente. Reformulo. Este Natal vai ficar para sempre no meu coração. Sim, é isso.

Primeiro porque neste Natal a minha filha, do alto dos seus dois anos recém-feitos, mas muito avançada para a idade, como se sabe, honrou-nos com a sua presença (o ano passado adormecera às oito da noite qual menino Jesus já exausto do seu destino) e aguentou estoicamente a noite sempre a desembrulhar presentes. A birra só veio quando lhe quisemos tirar o kit de pintura das mãos. Go figure.

Depois porque este natal teve sabor a reencontro. Um reencontro que eu não sabia que me ia emocionar tanto até ao momento da sua ocorrência. Se o tivesse antecipado, ter-me-ia munido de uma quantidade imbecil de Kleenex, tal foi a choradeira.
Assim que a vi, à minha tia, de cabelo arranjado como só a outra geração consegue, e os anos que não passaram pelos quilos, olhos expectantes a varrer a sala à procura das caras que não via há demasiados anos (se a memória não me falha, conto mais de dez), levantei-me e abracei-a, de olhos marejados e com vontade de não a deixar fugir mais, de pedir desculpas por me ter deixado embalar em quezílias alheias, por ter cultivado o descontacto que não fui eu que provoquei, por ter passado demasiado tempo sem desistir de abraçar uma causa que não era a minha. Em jeito de pedido de desculpas de parte a parte, abraçámo-nos várias vezes ao longo da noite, abraços sentidos e comovidos, redescobrindo uma cumplicidade que, afinal, sempre lá esteve.

Se há coisa que aprendi ao longo deste ano é que não podemos vestir a camisola das nossas mães, não podemos assumir a culpa pelos seus erros e inconveniências e temos de passar a aceitar a distância que nos faz ser pessoas diferentes, pessoas que, sem nunca termos deixado de as amar, às nossas mães, a dada altura nós, as filhas, escolhemos seguir o nosso próprio caminho.

E foi assim que passei a noite deliciada com o riso fácil da minha tia, com a sua jovialidade e simpatia, imersa numa vontade imensa de recuperar o tempo perdido e passar a visitá-la como se nunca tivesse deixado de o fazer.

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