Tive um namorado que adorava Nick Cave. Na altura Nick Cave, para mim, resumia-se às Murder Ballads que se resumiam aos duetos com a Kyllie Minogue e a PJ Harvey. Tudo o resto era sinónimo de tortura às mãos da PIDE. De cada vez que ele punha Nick Cave a tocar no autorádio era como se me estivessem a arrancar as unhas uma a uma, com um alicate de podar flores e, claro, sem anestesia. Numa certa altura ele lembrou-se que a antiga banda de Nick Cave, os Birthday Party, é que era, e obrigava-me a ouvir uma música horrorosa em que eles (o Nick e o namorado, por imitação) se punham a zurrar, repito, zur-rar como se fosse uma coisa mesmo fixe de se fazer. Mais valia terem-me mergulhado as mãos, ensanguentadas das unhas arrancadas a alicate, num balde cheio de álcool puro, que a dor teria sido menor do que ter de ouvir/assistir àquilo.
Um dia eu e o namorado acabámos. Ou melhor, ele deixou que eu pensasse que tinha sido eu a acabar com ele. Deixou também de ter piada alimentar um ódio só para fazer pirraça. Libertei-me do jugo do burro e estava tão imersa na minha dor que achei que o facto de o Nick ter, daí a poucos meses, lançado um álbum com o título No More Shall We Part cheio de músicas de cortar os pulsos e arrancar o coração só podia significar que entendia o que eu estava a passar. Ele e o Manel Cruz.
E foi aí, nesse álbum, que me (re)apaixonei. A partir daí, foi um amor sem fim, em que valeu tudo menos burros a zurrar (há limites, sim?). Até hoje, dia em que o último álbum de Nick Cave & The Bad Seeds pode, por fim, tocar no meu
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