12 de agosto de 2013

Casa das relíquias

Depois do fantástico workshop de crochet a que fui no sábado na Retrosaria, um sítio a que dá sempre vontade de voltar, de mexer em tudo, de sentir a textura de todos os tecidos giríssimos, de folhear todos os livros japoneses e de ter uma casa assim, cheia de mantas de retalhos penduradas nas portas e bonecos de pano gigantes no quarto das crianças, voltei a pensar na manta de crochet da minha avó.


Por um acaso divino que me ultrapassa, dei com a dita manta em casa da minha mãe, bem embrulhadinha num plástico da 5 à sec, nos confins de um roupeiro que já quase ninguém abre quando, no domingo, eu e a minha mãe procurávamos o resto dos 53 mil panos de cozinha que herdei de enxoval e já me vão dando jeito desde que tenho uma mulher-a-dias que confunde panos da loiça com trapos limpa-tudo.
Lá estava ela, linda, única e inestimável, a manta que a minha avó fez com as suas próprias mãos e que foi adornando, durante décadas a fio, todas as camas do casarão, agora ali fechada num roupeiro a ganhar mofo, tudo porque a minha mãe tem preguiça de remendar um buraco num dos cantos da manta. Lá consegui convencê-la de que a manta merece muito mais do que ficar enfiada num canto do roupeiro a atrair traças e demais bicharada, e que ficava mesmo bem na casa da neta mais nova, mediante a promessa solene de remendá-la, expô-la e tratá-la como aquilo que é: uma peça artesanal irrepetível com uma história contada em cada quadradinho.


 Nos panos da loiça já ninguém pensou, claro, mas depois de tudo o que ganhei ontem (fora a manta, foram restos de tecido vintage, restos de lã para ir praticando a minha recém-nascida aptidão para o crochet guardados uma caixa de metal vintage mais velha que eu que, reza a história muito pouco romântica, veio de Espanha cheia de bolachas, um livro daqueles maravilhosos dos anos 70 com lições de costura, tricot e crochet e que ensinam a fazer tudo, repito tu-do, e roupa que vesti em bebé feita pela mão da minha mãe e que escapou ao meu escrutínio da primeira vez que dei volta ao baú aquando do nascimento da primogénita), acho que fiquei bem servida. Isto sem contar com os casaquinhos de malha, fraldinhas debruadas e babygrows que a minha mãe insistiu em fazer e comprar para a mais nova, como se nós não tivéssemos caixas cheias de roupa da primogénita para reutilizar e estivéssemos mesmo precisados de mais uma fralda que dá tanto jeito para tapar a janela do carro. 
De facto, uma coisa que já percebi é que as mães têm um grave problema de surdez crónica em certas e determinadas situações. "Não precisamos" é muitas vezes confundido com um "Por acaso, dava-nos jeito mais um" e "Não quero, obrigada" é tomado como "Vê lá, não te quero dar muito trabalho...". Portanto, é deixá-las fazer. Elas gostam, sentem-se úteis e avós à séria e a gente arranja sempre mais um espacinho no armário. 
E com isto lá se vão os meus princípios do destralhanço...

Sugestões para remendar isto ou basta mesmo fechar o buraco com uma linha da mesma cor?
Os primeiros passos


Progressos

O produto final, uma amostra de cinco pontos mais ou menos mal amanhados...

A caixa das bolachas espanholas aka caixa vintage para guardar restos de lã

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