8 de agosto de 2013

Deixar as crianças ser crianças

Este domingo juntámos uns quantos amigos e respectiva criançada para uma sardinhada. Depois de almoço assentámos arraiais no terraço de um deles e as crianças foram dar um mergulho na piscina enquanto as mães vigiavam e os pais iam passando do vinho para o licor Beirão (...). Às tantas, começou a ficar frio e as meninas começaram a sair da piscina. Já depois de seca e vestida, depois de ter parado de tremer e de os lábios terem ganho alguma cor, a Inês quis voltar para dentro do tanque em imitação de uma das outras crianças. Opus-me fortemente, com medo que se constipasse, mas o pai, naquela atitude laissez faire laissez passer tão típica de quem já passou do licor Beirão para uísque, encolheu os ombros e fez-me o sinal de "deixa lá ir a miúda, pá". Meio contrariada, lá a despi.

Então o que aconteceu? A Inês, normalmente medrosa e pouco arisca em coisas aquáticas, pôs as braçadeiras e começou a nadar sozinha, ou a esboçar aquilo que mais tarde será nadar, a mergulhar a cabeça na água depois de gritar "Mamã, olha!" e a saltar e chapinhar, destemida, com um sorriso de orelha a orelha e uma felicidade que lhe saía da garganta às golfadas.

Acabou por só sair da água quando quis, não se constipou e eu senti-me um pouco envergonhada porque tinha tido uma atitude parecida à daquelas mães chatas e galinhas que costumo ouvir no parque a apregoar de 20 em 20 segundos: "Vê lá, não caias!", "Veste o casaco, não te constipes!", "Não subas isso que sujas as calças!", "Não se mexe na areia!" e irra, que tanto me irritam.

Se eu nunca a tivesse deixado voltar à água, supostamente para não se constipar, ela nunca teria tido a oportunidade de "nadar" e mergulhar sozinha sem estar agarrada às pernas dos pais e sem choramingar de cada vez que lhe escorria água pela cara. Não tinha, também, tido aquele momento de profunda felicidade que lhe ficaria marcado na memória caso fosse mais velha. Eu teria levado a minha avante, sim, teria podido sentar-me confortavelmente a comer petiscos sem estar preocupada em antecipar possíveis afogamentos, mas teria provavelmente impedido a minha filha de uma nova experiência. E essa possibilidade deixa-me muito triste.


Espero sinceramente que me sirva de lição para o futuro. Não quero ser daquelas mães chatas e rabugentas que querem os filhos quietos e sentadinhos para não amarrotar os calções. Quero ser daquelas mães que deixam os filhos mexer na lama para inspeccionar a vida das minhocas e chapinhar em poças de água e espalhar as tintas no chão da sala e subir às árvores e correr sem medo de cair e comer framboesas à mão sem medo de sujar o vestido e apanhar grilos para trazer para casa (humm, ainda tenho de pensar bem nesta). Quero ensinar-lhe a sentir-se livre. Mas, para isso, tenho de me libertar primeiro dos preconceitos parvos das nódoas que não saem e da febre que pode atacar. É preciso ter bom-senso e deixá-los ser crianças. Afinal, eles não sabem ser outra coisa.

3 comentários:

  1. Sem comentarios este post? talvez porque as mães ( e pais) que leram isto ficaram tão envergonhadas com elas que... preferiram fazer delete dele na sua cabeça!

    Muito bem! O meu aplauso de pé para este post!

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  2. é verdade sim senhora... é preciso aquele equilíbrio entre o demais e o nada ... tenho aprendido com o tempo que é mesmo isso: deixá-los crescer, deixá-los viver, fazer asneiras, cair, levantar ... só assim se voa não é? só assim se cresce seguro e confiante... quem não enfrentar perigos nunca saberá que eles existem ...

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