23 de novembro de 2013

Breves notas sobre um nascimento


Chegou e deu-me um passou-bem. Atrás de si vinha a aluna, de ar doce e quase tímido. Ele, e o seu bigode, ia lançando piadas e gracejos às grávidas que estavam para indução e a quem ele próprio, pouco mais tarde, se encarregaria de escoltar até ao bloco de partos.
Avisei-o para não pisar as águas que me haviam rebentado há 20 minutos. Ele fez então o que tinha a fazer, o famoso toque seguido pela aluna, que foi bem mais gentil. Mas às horas tantas já só queremos que nos arranquem a criança, mais toque menos toque pouca diferença faz.
Em menos de nada estava pronta para ir para baixo, "já tem três dedos". Eu já só ouvia a palavra epidural.
Dizem que as dores de uma indução são muito mais intensas do que num parto espontâneo. Nem tudo o que se diz por aí se aplica a todos os casos (como o segundo filho ser sempre mais cedo do que o primeiro!! Ha ha ha!), mas esta posso eu confirmar. Desci e subi dos infernos durante a hora que levou todo o processo desde a ruptura da bolsa de aguas à epidural, foi uma só hora intensa de dor profunda em que me agarrava às grades da cama e continha os gritos. Eu não grito de dor, porra, eu não grito de dor. Agora já não sei se gritei, nem isso me interessa muito. Porque logo chegou a epidural e logo entrei naquele estado zen de que o mundo podia acabar que eu não me importava.
O enfermeiro Fernando, chamemos-lhe assim, ainda veio ver como avançava a coisa, como o treinador de castigo no balneário que espreita pela janelinha do duche do fundo aos 80 minutos.
A coisa avançaria definitivamente pouco depois, num rol de acontecimentos e pormenores que não interessa agora aqui expor, e terminando na vinda ao mundo do segundo ser excepcionalmente belo e perfeito que, vejam só, saiu mesmo de mim.
No dia seguinte, o enfermeiro Fernando e a sua extremosa pupila haveriam de me visitar no quarto para ver o resultado da sua "obra" e me desejar as mais sinceras felicidades. Há pessoas assim, únicas, que nos roubam um espacinho no coração quando julgamos já tê-lo todo reservado.

...
A Alice chegou ao mundo na noite de quarta-feira para me arrebatar todo o coração de uma só vez. Olho para ela e por vezes julgo recuar três anos, tais são as parecenças com a irmã. Mas, depois, quando o olhar dela encontra o meu e levanta a cabecinha de tartaruguinha para olhar em redor, percebo que estou perante outro ser completamente diferente, outra parte de mim, que em breve manifestará a sua individualidade e logo me vai fazer perceber melhor porque é que isto faz todo o sentido.

3 comentários:

  1. (eu sei que é tarde, mas)
    Felicidades para a Alice, que veio trazer mais alegria ao mundo.
    (acho que tinha deixado no FB na altura).

    Gostei muito da escolha do nome. A Alice com toda a certeza fará jus ao nome escolhido, e será uma fonte de felicidade para a família.

    (pronto, está melhor, realmente um post destes não podia ficar por comentar, e vale mais tarde que nunca)

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