Estava tudo pronto para sairmos de casa quando virei costas para ir buscar a chucha da Alice. Três segundos depois, ouvi-as cair, uma em cima da outra, a Inês no chão e o carrinho virado de pernas para o ar, com a Alice lá dentro. Dizer que o meu coração parou é um eufemismo. Soltei um grito que não sei de onde veio e, depois de verificar que a Alice estava bem, apesar do susto, zanguei-me. Zanguei-me muito. Zanguei-me tanto que fiquei feita em frangalhos. Apesar de saber que uma criança de três anos não tem consciência do que pode acontecer quando se debruça e tenta subir para um carrinho de bebé com um bebé lá dentro, a soma das vezes que já a tínhamos alertado para isso acabou por me toldar o sentido de justiça e a capacidade de não exigir da mais velha atitudes de pessoa crescida.
O resto do dia correu mal. Foi mesmo o pior dia de maternidade da minha vida. Correu tão mal, do princípio ao fim, que fui para a cama certa de que não só era muito pior mãe do que julgava ser, como era até mesmo uma péssima mãe.
Foi por isso que muito me surpreendeu ter chegado hoje de tarde à escola e ter visto, exposto na parede, o desenho da minha filha alusivo ao Dia do Livro Infantil. Fora pedido às crianças que ilustrassem um conto que tinham ouvido (ou um dos contos preferidos, não percebi bem, tantas eram as interpretações das crianças). E ela escolheu desenhar-me a mim.
Não sei se primeiro veio a vontade de chorar se a de me açoitar e colocar um cilício, se foi tudo junto. No dia a seguir ao filme "A minha mãe é uma bruxa", a minha filha optou por desenhar-me a mim, a sua personagem preferida, em vez de ser fiel ao guião proposto.
E eu pensei, poças, pá, alguma coisa hás-de estar a fazer bem.
* Entretanto, o dia hoje correu melhor.
o que prova que muitas vezes os pais (sobretudo as mães) carregam culpas injustificadas.
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