2 de junho de 2014

A epifania adiada

Foi a última vez que me apanharam no Rock in Rio. Depois dos Arcade Fire, acho que só Morrissey me conseguiria convencer a voltar a pôr os pés no Parque da Bela Vista, mas como Morrissey não é menino para ir a um RiR, estou mais ou menos safa.
Por todos os motivos e mais algum. Primeiro, porque é demasiado grande. Logo, leva demasiadas pessoas. Para meu espanto, há malta que vai ao RiR para tudo menos para ouvir música. Vai para andar na Roda Gigante ou para andar de bicicleta e ganhar uma peruca ou para estar duas horas na fila para os sofás insufláveis ou, basicamente, para passar muito tempo numa fila qualquer para levar de borla qualquer merda que não serve para nada. 
Em segundo lugar, é a publicidade escarrapachada em todo o lado, menos nas casas de banho (o que, se virmos bem, foi uma grande falha da organização, pois eu fui pelo menos três vezes à casa de banho e ter-me-ia dado jeito conhecer a fundo mais uma seguradora ou operadora móvel). Tudo o que era palco ostentava a publicidade gritante de uma marca, tudo o que era circo de diversões também, as bugigangas para as quais as pessoas gastavam horas nas filas em pé também ostentavam o nome, o logo e a cor de uma marca,  não fosse uma pessoa confundi-las. Eu, que sou pessoa para me enervar com publicidade em excesso, fiquei bastante enervada. Mas aquilo é o Rock in Rio e RiR sem entretenimento para as massas não é RiR. Quem é que quer saber da música para alguma coisa?
Em terceiro lugar, é o vento e o frio. Não vale a pena dissertar muito sobre isto, porque não é culpa de ninguém. Mas que é desagradável, é, e andar vestida num recinto de festival parque de diversões como se estivéssemos em Janeiro não tem grande piada.
Em quarto lugar, o piso do palco principal não é lá muito fixe. Ficaram a doer-me os pés dos altos e baixos do piso como se tivesse andado aos pulos em solo lunar, mas sem a parte da gravidade. E depois é tudo longe. Se fôssemos para a colina da direita não víamos o palco. Se fôssemos para a colina da esquerda não víamos o palco. Se fôssemos lá para a frente não víamos nada, nem palco nem ecrãs gigantes, posto o que optámos por ficar lá atrás, num sítio de passagem que dá sempre aquele calorzinho num concerto.

Tenho a certeza de que o concerto dos Arcade Fire foi muito bom. Espectacular, mesmo. Mas lá à frente e se eu tivesse 1,80m. Porque lá atrás só deu para pensar em como os Arcade Fire se tornaram numa banda mainstream que enche áreas gigantes, alcança os tops de vendas, lança álbuns produzidos pelo James Murphy e videoclips (ainda se diz assim?) realizados por nomes de luxo. Eu, que pretensiosamente me orgulho de não gostar de coisas demasiado mainstream, sinto-me um pouco na corda bamba com estes. Como o meu homem tão bem me definiu um dia, "ela era daquelas que lia o Blitz na faculdade, estás a ver?". Não sabendo bem onde isso me coloca, garanto que nem sempre me traz felicidade.

Foi o terceiro concerto de Arcade Fire que vi. Gostei, como gostei de todos, porque gosto da música, mas um pouco menos. Se tivesse estado lá à frente as minhas palavras seriam outras. Mas como não estive, resta-me chorar mais um pouco por não ter estado em Paredes de Coura em 2005. Diz que aí é que foi.


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