4 de julho de 2014

Tradutor a dias

Fui contactada por uma empresa de tradução que me ofereceu 3 cêntimos por palavra com a justificação de que a grande oferta obriga a baixar os preços. Respondi educadamente que não podia aceitar semelhantes valores com a justificação de que não me é possível apresentar um trabalho de qualidade a esse preço, independentemente da oferta que ande por aí.

Há uns anos tive uma amena discussão com um amigo que ficou escandalizado quando eu lhe disse que trabalhava com empresas que me pagavam 5 cêntimos. Não sabia eu ainda, muito menos saberia ele, que nos tempos que correm dignifiquei-me e elevei a fasquia para bem mais que isso. Calculo que daria outra amena discussão, caso o assunto viesse novamente à baila.

Estamos a falar de uma profissão qualificada, para a qual estudei e me formei e na qual conto com 7 anos de experiência o que não é mau nem bom, mas estou longe de ser uma simples estagiária. E por isso não admito que me queiram pagar menos do que eu pago à minha empregada doméstica. É que, se formos a fazer bem as contas ao que representa o pagamento de 3 cêntimos por palavra ao final de um mês (tendo em conta que se espera que eu traduza, em média, 2400 palavras por dia, sem contar com o tempo dispensado para a revisão e a indispensável leitura final), subtraindo aquilo que um freelancer tem de pagar de IVA, à segurança social, ao seguro de acidentes de trabalho que é obrigado a ter e mais o diabo a sete (férias, direito a baixa que ninguém lhes paga, bla bla bla...), o resultado é bem menos do que recebe a minha mulher a dias. E, se eu acho que ir limpar escadas não é mais ou menos desdignificante do que traduzir, também não acho que traduzir seja mais ou menos desdignificante do que ser consultor, como o amigo lá em cima. E se é para ser mal paga, mais vale ir tratar da casa dos outros que sempre mexo mais o rabo e aprendo a tirar nódoas difíceis.

1 comentário:

  1. E um nitido aproveitamento da tão falada crise! Mas aos salarios milionários deles não tiram! O meu marido está desempregado (como tantos outros) não tem curso superior, mas as ofertas de emprego que lhe tem aparecido são para €475 e tem que falar/escrever corretamente 2 linguas, saber informática, ter viatura propria etc... isto é "escravidão do sec. XXI"
    Fez muito bem em recusar!
    Bjs

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