16 de dezembro de 2014

Calo no pé


Deambulando pelos corredores da biblioteca à procura de um dicionário de direito alemão que não havia, resolvi trazer um livro para casa. Depois de me admirar com a arrumação minuciosa da secção de ficção, com os livros organizados por país de origem, demorei muito tempo a escolher um livro. Mesmo muito tempo. Confesso, aliás, que foi dramático. Nenhum dos livros que pedi para o Natal se encontrava disponível e a maior parte dos livros que me chamaram a atenção eram livros, cujos exemplares tenho eu em casa, o que diz muito sobre esta necessidade de trazer coisas novas para casa quando ainda temos coisas novas em casa. Lá peguei num livro de Virginia Woolf e levei-o para a mesa para me ir habituando à ideia, mas acabei por decidir que não tenho paciência para Virginia Woolf e devolvi-o à estante. Peguei neste e naquele livro, folheei este e aquele livro, li o primeiro parágrafo deste e daquele livro e acabei por devolver todos à estante. Por fim, peguei num Doris Lessing e deixei-o repousar nas minhas mãos. Requisitei-o, sem grande convicção, contudo. Estava-se mesmo a ver que não vou conseguir lê-lo até ao fim antes de o prazo de entrega terminar, mas trouxe-o, mesmo assim. Porque tinha mesmo de trazer um livro novo para casa.

Isto fez-me lembrar a minha filha mais velha e acho que consegui entender, finalmente, o que ela sente quando entra no quarto das brincadeiras (nesta casa partilho o quarto onde está a minha máquina de costura com os brinquedos das miúdas) e vê tantos brinquedos à sua disposição*. 

E foi assim que cheguei à magnífica conclusão de hoje: destralhar é como ter um calo no pé. Por muito que se tire, que se raspe, que se amacie, o calo volta sempre a nascer. A não ser que se ampute o pé. Mas agora já estou a desconversar.


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