7 de janeiro de 2013

Destralhar em 10 passos

Uma das coisas que comecei a fazer no ano novo foi dar uma nova volta ao meu roupeiro e a cantos esquecidos da casa para deitar fora o que já não uso ou o que não passa de lixo, como os talões de compra que gostamos de ir acumulando num recipiente de arrumação na casa de banho (don´t ask...). Mais ou menos ao mesmo tempo, comecei a ler o e-book The Happiness Project da Gretchen Rubi. Logo no primeiro capítulo (semana três), ela fala exactamente do acto de "destralhar" (já falei disto aqui) e divide a tralha em 8 categorias que não podiam encaixar melhor naquilo que encontrei e deitei fora. Tomei a liberdade de acrescentar mais duas categorias (as últimas duas), exemplos do que abunda cá por casa

1 - A tralha nostálgica (nostalgic clutter), composta por todas as relíquias de tempos passados que fomos guardando, mas de que nunca mais nos servimos, como os inúmeros dossiers de apontamentos da licenciatura, fotos de ex-namorados (para que é que vamos ser nostálgicos neste ponto, a não ser que queiramos arranjar problemas na nossa relação actual ou viver agarrados a um passado que não faz mais sentido no presente?) ou os bloquinhos com bonecada que guardei para a minha filha escrever só quando já souber escrever, ou seja, daqui a 5 anos. Vamos lá a ver: hoje em dia também se fazem bloquinhos. Assim, para que é que vou estar a guardar bloquinhos com meia dúzia de páginas, só porque os desenhos me fazem lembrar o tempo da primária, em que as miúdas tinham por hábito escrever versos nos blocos umas das outras? E versos do mais foleiro que há? Tirar uma foto não chega? Além disso, são blocos óptimos para a miúda escrevinhar no carro. Não vou desperdiçar oportunidades de ajudar a formar uma autêntica artista!

2 - A tralha útil (conservation clutter), mesmo que não seja útil para nós. Para que é que vamos guardar vasos de florista, se a nossa varanda não é agraciada pelo sol e, portanto, qualquer tentativa de jardinagem é um fracasso total? Ou aqueles frascos todos que o homem teima em expor na estante da cozinha, porque "podem vir a dar muito jeito", apesar de só usarmos um terço deles?

3 - A tralha que comprámos em saldos (bargain clutter), mas que é completamente desnecessária. Acho que todos nos conseguimos lembrar de um ou dois exemplos...

4 - A tralha grátis (freebie clutter), tudo aquilo que ganhámos, que adquirimos por ter comprado outro artigo ou que veio no jornal. Por exemplo, aquele lenço horroso da revista ou as bases para copos que nos saíram nas rifas de Santo António, mas que, na verdade, nunca tirámos da embalagem original.

5 - A tralha que não devíamos usar, mas usamos (crutch clutter), basicamente, aquela que nos envergonha. Por exemplo: aquelas calças que nos fazem mais gordas ou a camisola de lã cheia de borbotos que guardamos para usar só em casa, mas que, na verdade, usamos mais vezes do que o desejável... na rua.

6 - A tralha que aspiramos usar, eventualmente (aspirational clutter), como o material de fazer bijuteria pelo qual, entretanto, perdemos todo e qualquer interesse e já lá vai um ano.

7 - A tralha que já está gasta e desgastada (outgrown clutter), mas que teimamos em não deitar fora (como a tal camisola cheia de borbotos).

8 - A tralha resultante de uma má compra (buyer´s remorse clutter), mas que nunca chegámos a devolver e tentamo-nos convencer de que ainda vamos encontrar uma boa ocasião para usar.

9 - A tralha que está à espera de conserto. Por exemplo, as coisas que deixaram de ser usadas porque se partiram, romperam ou descolaram, mas que nós teimamos em guardar, porque vamos, certamente, arranjar tempo para remendar ou consertar. No entanto, passado um ano, ainda está o botão por pregar (como o meu casaco da Desigual que comprei nos saldos e que é demasiado vistoso para mim) ou a moldura por colar (mas que continua bem à vista na nossa sala). Será que um ano é um limite aceitável para perceber que, na verdade, não conserto o artigo porque não me identifico assim tanto com ele?

10 - A tralha com valor sentimental, como aquele gato de loiça que uma amiga me deu em 2003, que foi e voltou de Berlim comigo, mas que entretanto já perdeu a cabeça e eu teimo em mantê-lo em cima da mesinha. A sério, um gato sem cabeça? Não é isso que me fará lembrar-me da minha amiga...


Depois disto tudo, devem pensar que a minha casa ficou bem mais vazia e despojada de objectos desnecessários. Pois não. Enchi mais um saco de roupa, dei mais uns quantos livros e livrei-me de mais uns quantos medicamentos fora de prazo, mas às vezes sinto que isto é um projecto para um ano inteiro (se bem que a Rita diz que é possível fazê-lo em 7 dias!) Declutter your home in 12 months kind of project. E mesmo assim, mesmo se embarcasse num projecto deste tipo, acho que a papelada do IRS desde 2003 iria ficar convenientemente esquecida...


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