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29 de dezembro de 2014

Não são resoluções, são prioridades

Tenho pensado muito sobre o novo ano e o que eu quero que seja diferente no futuro. Não gosto de retrospectivas, mas 2014 foi um ano de mudanças - de casa, de distrito, de emprego - mudanças sérias na vida de uma pessoa. Ainda me estou a adaptar a essas mudanças e a tentar contornar alguns contratempos, como o facto de trabalhar em casa num meio pequeno a 45 minutos de Lisboa, sem trânsito, ser tão diferente de trabalhar em casa nos agitados subúrbios a 5 minutos de Lisboa. Mas sobre isso falarei mais tarde, pois estou a criar subterfúgios que me permitam sentir-me mais acompanhada.
Mas tudo isto vem com o tempo, assim como o construir uma rede sólida de clientes que me permita ter um fluxo de trabalho constante. Isso ainda não aconteceu. Tenho andado muito ao sabor da maré e a tentar perceber as flutuações do mercado. Ora não tenho mãos a medir, ora não tenho trabalho durante dias a fio. Sei que o mercado demora tempo a reagir e já tenho alguns trunfos na manga, alguns bons clientes com bons trabalhos e boas tarifas que ficaram contentes com o meu trabalho, mas que precisam de algum tempo para perceberem que me devem colocar na lista de tradutores preferenciais. Tudo isto leva o seu tempo, claro. Afinal, só estou por minha conta há três meses. Pela minha experiência, em Janeiro o mercado da tradução estará mais ou menos estagnado, por isso, em vez de andar a chorar pelos cantos, vou aproveitar o tempo para me dedicar à legendagem (que paga muitooo mal, mas é tão giro!), aos meus projectos pessoais e... às minhas resoluções.

Não são bem resoluções. Este ano, não me fez muito sentido fazer uma lista de coisas como ler mais, comer melhor, fazer mais desporto, fazer mais sexo. É claro que quero isso tudo, não necessariamente por esta ordem. Mas este ano sinto necessidade de, muito mais do que introduzir novos hábitos, mudar aquilo que não está bem. Comecei, então, a pensar no que não está bem. Pensei em como me tenho sentido ultimamente, comigo mesma e na minha relação com os outros, ou melhor, com a família mais próxima.
E a verdade é que me tenho sentido frequentemente muito infeliz. Zangada com a vida. Impaciente. Aborrecida. Colérica. A mais velha tem-me dado cabo do juízo com a forma peçonhenta como lida com a irmã mais nova. Eu tendo a sair em defesa da mais pequena, mas depois vem o pai e alerta-me para os perigos do meu comportamento. E depois ela porta-se mal, muito mal, mal ao ponto de estarmos a jantar com amigos e não conseguirmos conversar, e eu pergunto-me se não estará apenas a chamar a atenção. Não há dúvidas de que está. E eu pareço que ando sempre zangada com ela.
Ontem foi um dia especialmente mau. Depois de uma noite de apenas três horas de sono por causa de alguma coisa que afligiu a mais nova, coube-me a mim sair de casa com elas para o pai poder trabalhar descansado. Não vou descrever em pormenor o que aconteceu nas três horas que se seguiram e que incluíram um almoço desastroso, mas digamos que foi bastante aborrecido. As duas estavam nos seus piores dias e eu, privada de sono e de amor-próprio, cheguei àquele ponto em que comecei a ficar com os olhos marejados de lágrimas e tive sérias dificuldades em disfarçar.
Então,  percebi. Percebi que tem havido um conflito constante no meu interior. Ora advogo as premissas da parentalidade positiva, ora desato a berrar quando ela faz disparates. Ora me ponho a ler as lamechices do Doutor Carlos González, ora sou de palmada fácil. E depois fico angustiada comigo própria e tenho insónias à conta disto. O não agir em consonância com aquilo em que acredito faz-me deixar de acreditar em mim, desacredita-me como mãe, como pessoa. E torna-me infeliz.

Mais do que uma resolução, esta vai ser a minha prioridade para 2015: agir de acordo com as minhas convicções, agir como me quero sentir, especialmente no que diz respeito à forma como educo as minhas filhas. Por muito que custe, e vai custar, e não vou conseguir sempre, mas quero focar-me nisso no início do ano, arranjar estratégias que me ajudem, para que as coisas comecem a fluir mais do meu agrado ao longo do ano.

A segunda prioridade, e fiquemos por aqui porque estas duas já me vão dar muito trabalho, tem a ver com a minha zona de conforto e os meus complexos. Para quem não está a par da minha história, pode lê-la aqui. Quem me conhece bem sabe que, até há alguns anos, eu não ia à praia, ou ia a muito custo e só com pessoas da máxima confiança, Sabe também que deixei de usar saias aos 12 anos, que não tomava banho em ginásios, que não corria, que não fazia ioga ou qualquer outra coisa que expusesse o meu pé e a minha perna a olhares e julgamentos. Porque as pessoas descriminam sem dar por isso. Está-nos no sangue, acho. A maior parte não faz por mal. Mas dói. Cresci a ouvir familiares, vizinhos, amigos dos meus pais, pessoas adultas portanto, a rotularem-me de "coitadinha" e "deficiente". Cresci a pensar que não podia correr nem fazer grandes caminhadas porque me doía o pé. E doía. Mas, já em adulta, fui percebendo que, por muito que me doesse ao princípio, o treino acabaria por mitigar as dores e quando comecei a correr, com motivos muito para além do estar em forma ou perder peso, comecei a acreditar que era possível, que afinal eu era igual aos outros, conseguia correr três, cinco, oito quilómetros, ainda que com dores, ainda que mais devagar, mas conseguia. Foi um grande passo para mim e para a minha auto-estima. É claro que precisei de alguma ajuda especialista nesse campo e foi graças a essa ajuda que comprei o meu primeiro vestido e o usei com botas altas há dois Invernos. Continuo a esconder, continuo a disfarçar, mas já não disfarço completamente e já não me importa muito se alguém estiver a olhar para as minhas pernas porque há algo de estranho ali, mesmo com botas. Já não quero saber o que pensam. Pelo menos no Inverno...

Mas houve um dia que, enquanto corria, um instrutor de desporto veio ter comigo perguntar se estava lesionada. Reagi bastante bem, contei-lhe o meu problema (há uns anos teria simplesmente inventado uma lesão) e falámos sobre como podia correr sem maltratar a coluna. Infelizmente, depois nunca mais consegui correr. O facto de alguém ter reparado que arrastava uma perna ao fim de três quilómetros foi o suficiente para perder a coragem de me continuar a expor. Voltei à minha zona de conforto e dela não saio há quase um ano. Entretanto, voltei ao ginásio, mas há pequenas nuances no meu comportamento no ginásio que indicam que estou prestes a deixar de lutar contra os meus complexos, como o facto de não tomar banho no ginásio. Uma coisa leva à outra e sei que, se continuar assim, todo o trabalho psicológico feito ao longo de dois anos vai por água abaixo, se não me obrigar a sair da minha zona de conforto de novo. Para ajudar à festa, no outro dia li este artigo no Público, pensei, porra, há gente com coragem e tive vergonha de mim por ter perdido a coragem.

E é por isso que vou voltar a correr. Não é por ser o desporto da moda agora (parece que ultimamente toda a gente começou a correr e a comer pão sem glúten), não é para emagrecer (se bem que, depois deste Natal...), não é para poupar dinheiro no ginásio. É mesmo para mostrar a mim própria que não há assim nada de tão errado comigo e que, pois claro, eu também sou capaz. Em suma, para ter mais confiança em mim. No fundo, para ser mais feliz.

Bom Ano.

4 de dezembro de 2014

Dormir é coisa para fracos

Quando estava a mostrar a casa à nova empregada (abençoada seja!), chegámos ao quarto das crianças e eu, meio envergonhada, tentei justificar o cenário de batalha campal com camas desfeitas e dois colchões no chão. Pois, sabe, é que a mais velha agora recusa-se a dormir na cama dela, temos tido alguns problemas neste campo... Ao que ela responde, com a maior naturalidade do mundo, que isso era do mais normal que havia e que o filho do meio dela dormiu no chão até aos 7 anos (neste momento, apeteceu-me rebolar pelo chão a chorar e arrancar os cabelos).

Há umas boas semanas que eu só sei o que é dormir uma noite inteira na minha cama, ao lado do meu homem, se elas forem para a avó (abençoada seja!). Nas noites normais, por volta das duas da manhã, se não antes, lá vai um de nós para o quarto delas, porque a mais nova tem tosse e acorda a mais velha ou porque a mais velha tem pesadelos e acorda a mais nova, e acabamos por pôr cada uma em seu quarto com um dos pais e dormir o resto da noite em camas separadas. Quem fica com a cama de casal tem mais sorte do que quem fica no colchão no chão, mas depois de várias noites assim, não há disputas sobre o melhor colchão. A malta quer é dormir!
Não sei se isto de as crianças preferirem dormir no chão em vez de na cama deles é assim tão normal, pelo menos ainda nunca tinha ouvido casos destes. Dormir na cama dos pais? Já tinha ouvido. Os pais dormirem com os filhos na cama dos filhos? Já tinha ouvido. Os filhos preferirem dormir no chão e querem que os pais durmam com eles no chão? Nunca. (E vai daí...) Mas há sempre uma primeira vez para tudo e já não vão daqui sem terem aprendido uma coisa nova, que é: quem tem filhos não pode nunca cantar de galo. Ah e tal, eu nunca vou fazer assim. Não pode. Ah e tal, eu cá nunca vou fazer assado. Não pode. Especialmente quando os nossos objectivos parentais são comprometidos pela privação de sono. Não há volta a dar. Às duas da manhã a malta não quer saber do que não se pode e não se deve fazer nisto de educar, a malta quer é que elas parem de chorar, se enrosquem em nós quietinhas e nos deixem dormir.

Já pensei, no entanto, em várias formas de convencer a miúda a saltar para a cama dela e não sair de lá. Nenhuma envolve cordas e nós de escuteiro, estejam descansados. Pensei em coisas mais doces como suborná-la com chocolates (check!), coisas mais lúdicas como mostrar-lhe vídeos do Anselmo Ralph (check! and don't ask!) ou coisas mais pirosas como comprar-lhe um edredon da parva da Violetta. Not check, porque mãe (ainda) tem limites! 

Por isso venho aqui pedir encarecidamente que me inundem com as vossas sugestões infalíveis para convencer a Inês de que a cama dela é que é. Preciso muito de ajuda. Já estou a chegar àquele ponto em que, quando me vou deitar, penso se valerá a pena deitar-me na minha cama...


24 de outubro de 2014

Ora muito boa noite

Com homem fora e um curso "refresh" de legendagem amanhã, viemos dormir a casa dos meus pais, cá longe, para elas poderem ficar com os avós durante o dia de amanhã e eu poupar nas viagens.
Na hora de vir deitar, a Inês recusa-se a vir dormir para o sótão comigo e faz aquela cara de pânico igual àquela ocasião em que apareceu o boneco gigante da Vaca Que Ri. Percebi que não a iria conseguir convencer por gomas nenhumas deste mundo. Voltámos lá para baixo e negociámos a dormida com o avô. Tudo se arranjou. Neta pequena dorme com a avó, neta grande dorme com o avô. Ou talvez eles troquem as voltas depois. O certo é que eu, de repente, me vi sozinha, a dormir sozinha. No sótão. Com um livro. E tampões nos ouvidos. Sem grandes probabilidades de ser acordada nem para dar biberão nem para pôr a fazer chichi nem porque sim nem porque não.

É capaz de a minha satisfação se ouvir lá em baixo.

Se calhar é melhor apagar já a luz.

16 de julho de 2014

Saquinho de gomas (ou como dar um péssimo exemplo de parentalidade)

Há três dias que a Alice se mudou para o quarto da irmã. A primeira noite correu bem. A segunda noite foi assim algo entre o terrível e o horrível. Na terceira noite subornei a mais velha com um saco de gomas se não acordasse a irmã. Foi um daqueles momentos em que, assim que formulei o pensamento, percebi que era uma grande burrice, mas isso não me demoveu de a cometer. Sai, portanto, um saco de gomas hoje à tarde. E à noite acho que vou rezar ao senhor para me dar discernimento.

E me enviar tampões de ouvidos mais fortes pelo correio celestial expresso.

9 de julho de 2014

É só uma fase

Em circunstância alguma me arrependi alguma vez de ter tido as minhas filhas. Não quando estão doentes e me obrigam a faltar ao trabalho, não ao revolucionarem a minha vida social, não ao contribuírem para o meu cansaço generalizado, não ao me darem mamas de velha, viroses ou até mesmo piolhos. Mas esta noite, enquanto, pela terceira vez, me sentei à beira da cama da Inês, desassossegada pelos gritos, sem saber se devia acordá-la à força do pesadelo ou não, sem perceber se aquele choro iria extrapolar para um terror nocturno a que nos tem vindo a habituar desde Dezembro, já sem dedos das mãos para contar as noites de merda desde que veio de férias com os avós e com a paciência presa por um fio, a invejar a "sorte" do pai dela que pode ficar sempre na cama porque ela só me quer a mim, houve ali um breve momento, uns milissegundos em que me perguntei oh, mas porquê, mas por que é que eu tive filhos? Depois repeti três vezes para mim própria "isto é só uma fase, isto é só uma fase, isto é só uma fase", segurei-lhe a mão e esperei que parasse de gemer para eu voltar, pé ante pé, à minha cama, espreitar a outra a quem os pesadelos ainda tardarão a chegar e readormecer com relativa facilidade.

19 de junho de 2014

Humor de mãe*

Eu já disse várias vezes que a fase dos três anos estava a ser a mais difícil, um poço de desafios, birras, recusa em comer, noites difíceis, you name it.
Felizmente as coisas acalmaram bastante. Não sei se foi o facto de a mais velha ter percebido que a mais nova não lhe roubou o lugar (e que bem que elas se dão), se simplesmente ela percebeu quem é que manda aqui, se é a chegada do calor e dos dias longos que torna tudo mais fácil, a verdade é que as coisas melhoraram bastante. É claro que continua a fazer das suas, mas se não fizesse seria de estranhar... No entanto, acho que posso afirmar que estamos a sair da fase má para entrar numa nova fase.
A fase do... cocó!

Se não, vejamos: não há dia nesta casa em que não se use a palavra cocó nas mais variadas e inesperadas ocasiões. Por exemplo:

- Qual é a tua comida preferida?
- Carninha com massinha e... cocó!

(A brincar aos restaurantes)
- Que gelados tem?
- Tenho gelado de morango, de kiwi e de cocó!

- Estes sapatos já não te servem, pois não?
- Não, e cheiram a cocó!

Tenho a certeza que será uma fase normal. De qualquer maneira, ontem entrei na brincadeira e, quando me falou em cocó a meio de uma conversa que metia comida, propus-lhe, da próxima vez, pôr o seu cocó numa marinada de mostarda, cozinhá-lo e servi-lo ao jantar com batatinhas fritas. Olhou para mim como se eu fosse louca, fez um esgar de nojo e depois disse:

- Mamã, eu estava só a brincar!

Afinal eu não percebo mesmo nada.



* título não roubado ao livro, porque não tem mesmo nada a ver.

8 de junho de 2014

São todos assim, mas podiam não ser

A maior parte dos pais quer que os seus filhos sejam iguais aos filhos dos outros, no sentido de apresentarem mais ou menos os mesmos padrões de desenvolvimento e comportamentais das outras crianças que é para ter a certeza que está tudo como deve estar: dentes aos seis meses, andar aos doze, conhecer um determinado número de palavras aos dezoito e conseguir desenhar a figura humana algures antes dos três. Tudo o que sai de determinados padrões causa ansiedade aos pais que temem que o seu filho apresente algum atraso no desenvolvimento. Ser diferente só se for para ser mais inteligente.
Isto, claro, sou eu a generalizar. Nunca me preocupei demasiado com patamares. É bom saber que eles estão a desenvolver-se bem, mas também é desejável que, a determinada altura, se comecem a distinguir dos outros miúdos e a apresentar sinais característicos de uma personalidade vincada que não segue a carneirada. Mas há uma coisa em especial em que eu, e tenho a certeza que todos os pais do mundo, gostava que as minhas filhas fossem diferentes de todos os outros miúdos: que ao fim de semana nos deixassem dormir até uma hora que não se aproximasse tanto da madrugada... Durante a semana é tão difícil acordar a mais velha para ir para a escola, mas ao fim de semana às sete da manhã parece ela que tomou uma injecção de adrenalina. São todos assim, dir-me-ão. Isso, desta vez, não me serve de grande consolo...

Este post também se podia chamar "Injustiças desta vida".

3 de junho de 2014

Entre pais e filhos não se mete a colher. Ou mete?

Anda aí uma nova polémica lançada pelo blogue Pais de Quatro na sequência da entrevista ao pediatra espanhol Carlos González pelo Observador. Tenho seguido o assunto com atenção e lido todos os posts relacionados (são como as cerejas!) de que tenho vindo a ter conhecimento e até já fui agraciada com uma menção honrosa a um comentário meu no Pais de Quatro. 
Este é um assunto que me interessa bastante e com o qual me tenho vindo a debater ao longo da minha ainda curta experiência de mãe. Cresci com palmadas e castigos e, se durante toda a minha vida sempre disse que não fiquei traumatizada por isso, a verdade é que dar uma palmada é coisa que me incomoda e não me pareça que o castigo seja solução a longo prazo. No entanto, também não concordo com as teorias do co-sleeping, da amamentação prolongada e do embalar o bebé até adormecer (por sistema ou em bebés com mais idade). Por outro lado, também acho um disparate aqueles pais que refreiam os seus instintos e têm medo de dar colo a um bebé para ele não criar manha. Um recém-nascido não nasce já a "sabê-la toda". Ele só quer calor e conforto, tal como tinha no útero da mãe, e, mais tarde, com 3 ou 4 meses, e mesmo depois, quando eles aprendem que a mãe aparece se eles chorarem, também não é manha, é puro instinto de sobrevivência. 

Traduzido em miúdos, o João Miguel Tavares passou-se com as teorias do pediatra Carlos González, que ele designa como "parentalidade cutchi-cutchi" e apresenta uma série de argumentos contra, com base apenas na entrevista e não nos livros do pediatra, é preciso notar. Os vários posts dele fizeram furor (este é pertinente, com algum humor, e o último e em tom mais sério é este, mas é só pesquisar os outros mais para trás). Concordo com ele em parte, mas a verdade é que a existência de uma pessoa com as ideias do Carlos González me tranquiliza. Não preciso que me digam que tenho de dar muito amor às minhas filhas, mas preciso que me vão lembrando de quando em vez que tenho de ter mais paciência, que ela (a mais velha, porque a bebé não entra ainda na equação) ainda é só uma criança e que as rotinas dos adultos não são compatíveis com o mundo que vai na sua cabecinha e eu não posso exigir dela mais do que ela me consegue dar do alto dos seus três anos e meio. Às vezes, na inflexibilidade do dia-a-dia, é fácil esquecermo-nos disto. E é nessas alturas que tenho de parar, respirar fundo e deixá-la ser a criança que é. No entanto, com regras bem definidas, como ressalva tão bem a Mum´s the Boss. Afinal, estamos a educar seres humanos para viver em sociedade e não serem selvagens ou meninos mimados que ninguém suporta. Como em tudo, é preciso encontrar o meio termo. E é essa a busca incessante que faço dentro de mim.
Um poço sem fundo, é o que é.

14 de maio de 2014

Agora que penso nisso, a culpa foi do queijo

Depois do pesadelo da noite de ontem, cujo total de horas dormidas não deve ter ultrapassado as três, quando hoje acordei às duas e meia da manhã, depois de estar a dormir há 3 horas sem interrupções, senti-me profundamente feliz e afortunada. Dormir 3 horas sem interrupções é, desde há várias noites, uma bênção dos deuses. Como sempre que acordo feliz e recuperada me costuma dar a fome, antes de voltar ao quarto ainda passei pelo frigorífico e roubei uma fatia de queijo que é daquelas coisas que gosto de comer no escuro (whatever).

Tivesse eu sabido o que me esperava no quarto e tinha-me demorado um pouco mais à porta do frigorífico. Entre amamentar a Alice e perceber que o motivo por que ela não conseguia voltar a adormecer era fome (maminhas já viram melhores dias) passaram três horas, (caso não tenham percebido: 3 horas), durante as quais houve tempo ainda para acudir à mais velha, que acabou por se vir enrolar na nossa cama, e adormecer a mais nova ao colo, tal era já o desespero. Quando voltei a adormecer, já perto das seis, ainda levei com uma série de pontapés da mais velha para acordar com o despertador pouco depois e não acreditar muito bem no que me estava a acontecer. Só acreditei quando me olhei ao espelho e percebi que, no lugar da cabeça, tinha uma grande e redonda bola de râguebi. Ou qualquer outra coisa de forma e tamanho semelhantes.

23 de abril de 2014

Mães com sentido de humor (e ainda o Dia Mundial do Livro)

Acontece-me sempre que tenho filhos (até parece que já tive uns quatro...). Logo nos meses a seguir ao nascimento, consigo manter mais ou menos os hábitos de leitura, aproveitando o tempo em que dormem ou mamam. Mas por volta do quarto ou quinto mês, tendo a adormecer à segunda página, perco o fio à meada, pego noutro livro, volto a perder o fio à meada, às tantas já ando a ler quatro ou cinco livros ao mesmo tempo e acabo por não ler nenhum.

Desta vez, por ter um telemóvel daqueles inteligentes que faz tudo menos fritar batatas, o telemóvel acaba por ser a minha grande companhia quando tenho de dar de mamar a meio da noite. Podia ler livros no telefone, podia, mas acabei por substituir a leitura de livros pela leitura de blogues, não só aqueles que sigo diariamente, como até mesmo a leitura integral de alguns (poucos) blogues que me fascinaram ao ponto de querer descobrir o que se escondia nos arquivos.

Li na íntegra uns quantos desses blogues, maioritariamente blogues de mães como eu para quem a maternidade não é um quadro cor-de-rosa cheio de fofos e folhos, mas sim uma realidade dura que nos cansa e enche de culpa, mas também nos recompensa com aqueles momentos de ternura e auto-realização que nos marejariam os olhos de lágrimas se fôssemos do tipo romântico. Daí que, nos últimos cinco meses, a meio da noite, enquanto vocês dormem, eu ando a investigar os arquivos dos blogues do outros, familiarizando-me com as autoras desses blogues e as suas famílias como se de personagens literárias se tratassem. Não as conhecendo pessoalmente, resta-me imaginar como serão os seus gestos no dia a dia, a sua voz, as suas roupas, a forma como fazem festinhas ou gritam com os filhos.

Foi mais ou menos assim que fui dar ao blogue da Inês Teotónio Pereira, um blogue divertido sobre as aventuras de ser mãe de seis filhos (sim, seis!), e ao seu livro Humor de Mãe. Mesmo que algumas das suas ideias de direita sobre o aborto, a co-adopção e outras que tais estejam em extremos opostos das minhas, divirto-me muito com a maneira irónica como escreve sobre a maternidade e revejo-me bastante em alguns pontos. Foi este o livro que comprei ontem (porque a Feira do Livro ainda tarda) e é esta a recomendação que deixo aqui para o Dia Mundial do Livro. Por doze euros (e uma capa que faz lembrar a vaselina Couto!), vale a pena dar algumas gargalhadas e pensar que não estamos sós nesta dicotomia de amarmos os nossos filhos, mas às vezes já não os podermos ver pela frente.

Aqui um pequeno excerto.

21 de abril de 2014

O importante é não perder a compostura

No fim-de-semana passado fui a um baptizado e levei uns sapatos de salto que, não sendo muito altos, a meio da tarde já me provocavam um desconforto tal que nem conseguia descer escadas sem parecer uma atrasada mental.
Foi assim, nesta tormenta, que levei a Alice ao piso inferior para lhe mudar a fralda. Sem elevador, as escadas de acesso eram bastante íngremes para o meu sapatinho de donzela e, muito pouco habituada a estas andanças, comecei a descer as escadas uma a uma, tentando equilibrar-me com a bebé meio deitada num braço e o fraldário na outra mão. Lá em baixo vinha uma outra mãe, daquelas que fica logo linda e vaporosa depois de sair da maternidade, com um corte de cabelo todo fashion e óculos escuros à diva, a subir as escadas tal qual uma pluma de pavão (já tinha reparado nela e proferido interiormente uns quantos nomes feios).
Ora eu, que gosto pouco de fazer figura de anormal, achei que não lhe iria ficar atrás, mesmo que não me tivesse penteado para o evento, muito menos aquela coisa do vaporoso, e resolvi descer também eu as escadas qual pluma no ar, leve como uma donzela e sem ter de olhar para baixo porque "saltos é o meu nome do meio"!
Esqueci-me foi que levava uma bebé nos braços e que as escadas tinham um corrimão à altura do meu cotovelo. Na verdade, eu não me esqueci. Na verdade, eu suava por dentro a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada, fraldas ou bebé, mas tão focada em não deixar cair nada acabei por me esquecer de afastar a cabeça da Alice da parede.
E foi então que o inevitável aconteceu. Ao dar balanço para descer as escadas sem parecer uma anormal  (percebo agora que não me saí bem), dei com a cabeça da Alice no corrimão. 

Esta é a parte em que vocês esperam que eu diga que parei imediatamente de descer, examinei a cabeça da piquena e a acalmei, alheia a tudo o resto. A história acabava aqui com uma boa lição de moral, certo? 
Errado.

Houve aqueles dois segundos de espera entre bater com a cabeça e começar a chorar. Foram dois segundos de profunda esperança. Esperança de que ela não se tivesse aleijado a sério, mas, principalmente, que ninguém tivesse dado por nada, sobretudo a lambisgóia de penteado fashion! Foram dois segundos em que ainda consegui descer mais um degrau como se nada fosse, a tentar equilibrar-me sem deixar cair nada e a cerrar os dentes com aquele sorriso amarelo não-se-passa-nada.

A lambisgóia, provavelmente, não devia estar a acreditar na negligência que acabara de testemunhar, pois ainda parou a meio das escadas, talvez com a intenção de me avisar "Olhe que a sua bebé bateu com a cabeça...". Mas eu, como se nada fosse, achei por bem nem dar pela sua presença e fingir-me surpreendida quando a Alice, por fim, abriu a goela. 
- Oh, bebé, o que foi bebé? Tem a fraldinha cheia, tem?

A lambisgóia seguiu caminho e eu, quando cheguei lá abaixo, ainda encontrei uma amiga à porta da casa-de-banho a quem confidenciei, com o ar mais natural do mundo:

- Nem sabes, acho que acabei de dar com a cabeça da Alice no corrimão...




* Para que conste, está tudo bem com a Alice. E, até a lambisgóia se ir embora com o seu rebento-capa-de-revista, fui muito bem-sucedida em escapar-me da sua vista.

11 de abril de 2014

Dos segundos [versão actualizada]


A propósito deste artigo da Up To Lisbon Kids sobre ter um terceiro filho, e eu que (ainda só) vou no segundo, vai  não vai lembro-me de algumas diferenças sobre a forma como as minhas duas foram/são recebidas neste mundo.

Começando pela diferença abismal do número de visitas no hospital e em casa na era do puerpério (salvo os avós e dois casais amigos, a Alice foi praticamente ignorada por toda a gente) e do tipo de prendas que recebemos para ambas (enquanto a primeira recebeu desde roupa a brinquedos, linhas completas de cosméticos e banheiras, a segunda foi corrida a rocas...), a Alice leva com todos os brinquedos e roupas usadas da irmã e é se quer. As roupas ainda as lavei antes de as usar. Mas os brinquedos foram directamente da caixa onde estavam guardados há dois anos para a boca dela. Nem vale a pena dizer que, quando foi da Inês, esterilizava tudo e um par de botas. Pelo menos até perceber que não era preciso cair em exageros.
O tipo de fraldas usado também sofreu uma grande alteração. Na verdade a marca nem importa. O que importa é a promoção. Só sou esquisita com as toalhitas, que compro na farmácia, mas de resto a mais nova é muito pouco dada a frescuras. Tanto que, à força de ter a mais velha para deitar, ler a história e o diabo a sete, a Alice aprendeu a adormecer sozinha bem cedo.

Isto são as coisas óbvias.

Depois há aquelas nuances da segunda maternidade mais relaxada como quando saio à rua sem fraldas nem toalhitas, a miúda bolça e eu limpo com o que está mais à mão: a écharpe. Assim como assim, ando sempre despenteada, com nódoas de bolçado e a cheirar a papas e leite azedo.
Sim, porque há coisas que nunca mudam.

2 de abril de 2014

A pior mãe do mundo

Estava tudo pronto para sairmos de casa quando virei costas para ir buscar a chucha da Alice. Três segundos depois, ouvi-as cair, uma em cima da outra, a Inês no chão e o carrinho virado de pernas para o ar, com a Alice lá dentro. Dizer que o meu coração parou é um eufemismo. Soltei um grito que não sei de onde veio e, depois de verificar que a Alice estava bem, apesar do susto, zanguei-me. Zanguei-me muito. Zanguei-me tanto que fiquei feita em frangalhos. Apesar de saber que uma criança de três anos não tem consciência do que pode acontecer quando se debruça e tenta subir para um carrinho de bebé com um bebé lá dentro, a soma das vezes que já a tínhamos alertado para isso acabou por me toldar o sentido de justiça e a capacidade de não exigir da mais velha atitudes de pessoa crescida.
O resto do dia correu mal. Foi mesmo o pior dia de maternidade da minha vida. Correu tão mal, do princípio ao fim, que fui para a cama certa de que não só era muito pior mãe do que julgava ser, como era até mesmo uma péssima mãe.

Foi por isso que muito me surpreendeu ter chegado hoje de tarde à escola e ter visto, exposto na parede, o desenho da minha filha alusivo ao Dia do Livro Infantil. Fora pedido às crianças que ilustrassem um conto que tinham ouvido (ou um dos contos preferidos, não percebi bem, tantas eram as interpretações das crianças). E ela escolheu desenhar-me a mim. 


Não sei se primeiro veio a vontade de chorar se a de me açoitar e colocar um cilício, se foi tudo junto. No dia a seguir ao filme "A minha mãe é uma bruxa", a minha filha optou por desenhar-me a mim, a sua personagem preferida, em vez de ser fiel ao guião proposto. 

E eu pensei, poças, pá, alguma coisa hás-de estar a fazer bem.


* Entretanto, o dia hoje correu melhor.

31 de março de 2014

Isto já passa

Belém
Há dois anos passei por uma família francesa que viajava por Portugal de bicicleta e levava o seu filho pequeno num atrelado. Descobri-lhes a página no Facebook e ainda lhes segui as aventuras durante algum tempo, mas entretanto perdi-lhes o rasto. 
Este Verão, o pai das minhas filhas subiu ao Pico e, durante a subida, conheceu uma família com duas filhas que tinha ido acampar com as miúdas lá para cima. Ainda hoje ele fala nisso e em como gostava de levar as suas filhas a fazer o mesmo daqui uns anos.
O ano passado, ou há dois anos, já não sei bem, a família viajante mais mediática de Portugal começava uma volta ao mundo com uma criança de 5 anos, deixando muitos horrorizados com a ideia de levar uma criança tão pequena para destinos tão longínquos e exóticos, outros surpreendidos com tamanha coragem e ainda outros, como eu, com a garantia confirmada de que ter filhos não tem de ser impedimento para nada e que está tudo nas nossas cabeças. É claro que tem de haver dinheiro para isso e uma série de condições favoráveis, como a mobilidade do trabalho de, pelo menos, um dos progenitores. Mas reunindo-se essas condições, é só mesmo uma questão de mudar o chip.
Há poucos dias, li a notícia num blogue de que gosto muito de que esta família com dois filhos decidiu largar tudo e partir em viagem durante um ano. A única diferença dos casos acima citados, é que estas crianças já estão em idade escolar. Para não perderem o ano, os pais vão ensiná-los em viagem de acordo com o programa curricular, em regime de homeschooling.

Sesimbra
Depois do sentimento inicial de inveja, fiquei maluca. Comecei imediatamente a pensar que nós também nos devíamos atirar para uma aventura destas. E quando. Quando as miúdas tiverem pelo menos cinco anos, para que as memórias da viagem não se desvaneçam com as dores de crescimento. Tendo em conta que a Alice nasceu há poucos meses, isso dá-nos uma margem de cinco anos para começar a poupar e planear, o que acho que é razoável, tanto para aprofundarmos esta ideia como para a largarmos de todo (o mais certo). Imagino, com um encolher de ombros, o que os avós iriam dizer. Mas imagino, com um sorriso nos lábios, as marcas profundas que uma viagem deste tipo poderia deixar nas minhas filhas. O que lhes poderia ensinar, sobre elas, sobre os outros, sobre elas com os outros, sobre a entreajuda familiar, sobre o desapego aos bens materiais, sobre o aproveitar o aqui e o agora, sobre isto e tanto mais, tanto mais.
Muitas vezes penso que me faltou dar uma volta ao mundo antes de ter filhos. Como se a porta se tivesse fechado permanentemente agora que já tenho duas. Como se ir viajar agora só puder ser feito a dois, porque o preço dos bilhetes de avião sobe exponencialmente quando somos quatro, porque também precisamos de uns dias só a dois e porque elas também ficam tão bem com os avós e lhes é basicamente indiferente ir passar uns dias ao Brasil ou ali a Montegordo. Isso é tudo muito verdade, pelo menos enquanto ainda são pequenas. Mas quando deixarem de dar tanto trabalho, quando começarem a perceber as coisas e a ver o mundo com outros olhos, gostava de pensar seriamente nisto de as levar a conhecer o mundo, de lhes dar as bases para viverem em comunidade, descentradas de si próprias, com consciência do lugar que têm no mundo e do que nele e dele querem fazer.
Podemos começar com uma viagem por Portugal durante três semanas. Ou com uma viagem pela Europa durante as férias do Verão. Ou se isto for pedir muito acampar na Galiza também servirá para me apaziguar as ganas de lhes querer proporcionar a melhor infância do mundo fora da rotina quadrada que muitas vezes levamos.
Tapada da Ajuda
Sonhos, não passam de sonhos num breve momento de loucura temporária. Quando o homem chegar de viagem e me fizer uma ou outra pergunta, porque ele pensa sempre em tudo, e eu puser de vez os pés no chão e vir que isso afinal é para os outros, vou engolir em seco e continuar na  minha vidinha que não é má de todo e contentar-me em levá-las a passar uns dias num bungalow em Peniche. Ou apanhar pedrinhas para o parque perto de casa. 
Se formos a ver bem, é tudo uma questão de gestão de expectativas.

Linda-a-Velha

28 de março de 2014

Morangos para o jantar


Ela ainda não sabe, mas esta semana vai haver morangos para o jantar. Que é o mesmo que dizer: vai entrar a "semana do bandalho". Ele bem me fez prometer que não a vou deseducar, mas ficou contente com a minha definição de deixá-la fazer o que quer "dentro do razoável". 
Sempre que o pai está fora, eu basicamente não estou para me chatear (não é bem isso, mas espremido vai dar ao mesmo). A verdade é que ela se porta melhor quando está sozinha com um de nós do que quando está com os dois, portanto eu nem devia estar com coisas. Mas mulher prevenida vale por duas e já tenho tudo pensado ao pormenor.
Comecei por me abastecer daquele tipo de comida de que ela gosta e que nós nunca ou nem sempre lhe damos, mas não posso pormenorizar, porque o pai dela vai ler isto. Chamemos-lhe a estratégia da compensação com comida, mais conhecida por "come e deixa-me ver o Facebook". Funciona, se é que ainda não deram por isso.
Depois passa muito por sair da rotina e fazer coisas giras. Ir à piscina, fazer bolinhos, pintar caixinhas (e camisolas...), deixá-la ver filmes no Youtube enquanto se faz o jantar, quiçá dormir comigo e com o gato na mesma cama (estou aqui a pensar que o co-sleeping pode ser uma técnica eficaz para evitar os terrores nocturnos... mas também ajuda a que não tenha de me levantar muitas vezes durante a noite - mas este ponto ainda está em estudo) e no domingo ir ver não sei o quê na Ler Devagar que diz que é giro. Quando tudo o resto falhar, vamos ao restaurante comer pizza e gelado.
Ainda pensei em deixá-la não tomar banho durante uma semana inteira, mas acho que isso já é dar mau exemplo.

O truque é descomplicar e passar uma semana sem grandes atritos ou imprevistos. Vou estar sozinha com uma de três e outra de peito, razão mais do que suficiente para não me poder deixar vergar pela inflexibilidade do dia-a-dia. Se fosse mãe solteira, não podia alimentá-la sempre a douradinhos, mas como não sou, acho que me é permitida uma dose saudável de desleixo parental.

É claro que, na pior das hipóteses, fica tudo como estava, o que também não é necessariamente mau.

27 de março de 2014

Os terríveis três

Para aqueles pais que estão a ter um princípio de parentalidade difícil, com noites mal dormidas, rabos assados, mamilos gretados e petizes que não aceitam a papa, eu só tenho uma coisa a dizer: esta é a parte fácil! Esta fase, desde bebés até ao ano/ano e meio - quando começam a andar e a falar e a fazer coisas realmente engraçadas e enternecedoras, em que o enamoramento é total - é a parte fácil. É que depois disso chegam os dois anos e com eles as primeiras birras de se atirarem para o chão, a vontade própria do eu quero, posso e mando, a consciência do eu e do mundo em redor deles, entre outras coisas com muito menos racionalidade. Os "terrible two", prometem os livros sobre parentalidade, são só isso mesmo, terrible two. Aos três tudo será diferente, vão ver. 

(Nesta parte sou eu a cantar aquela música do Jorge Palma "deixa-me rir... lá lá lá".)

Mas os três, senhores, os três são bem piores. Os três são... humm... como dizer... maléficos? É claro que tem aquela parte gira de eles já se saberem expressar bem e poderem ter conversas com princípio, meio e fim, e serem muito fantasiosos e criativos e vos dizerem coisas como "és a minha mamã fofinha" e vos fazerem rir (e se rirem) com as coisas mais parvas. Mas falar muito e bem traz um problema: a argumentação. Com três anos uma criança argumenta (e se argumenta...) e negoceia (e se negoceia...) e é capaz de nos deixar com a cabeça em água em dois minutos e meio. Depois têm comportamentos autistas como só poder comer a banana se forem eles a descascá-las ou os lápis terem de estar todos virados para cima senão o mundo acaba ou escolherem, determinados e irredutíveis, a indumentária que querem levar para a escola nesse dia (se bem que o resultado é o mesmo quando é o pai a escolher-lhes a roupa). Isto para não falar dos terrores nocturnos, que dão a sensação de estar a viver certas cenas do filme "O Exorcista" (yes, been there...). 

Segundo consta, os quatro também não são melhores. Ou, pelo menos, é melhor manter as expectativas baixas. Agora aos cinco é que é, ouvi eu de duas fontes fidedignas. Portanto, isto é como a promessa de retoma do país. Estão na merda agora, mas não se preocupem que isto em 2040 é que vai ficar mesmo bom. Não interessa nada se ainda só estamos em 2014, porque em 2040 é que é. 
Assim é com os filhos. 

Pais do mundo: diz que é aos 5 que eles ficam tratáveis! Rejubilai de alegria! A salvação existe!

(Portanto, gozai agora a fase em que os podeis deixar na espreguiçadeira entretidos com um boneco durante vinte minutos seguidos: a fase dos bebés que só mamam, cagam e choram é, sem dúvida, a única fase verdadeiramente descontraída!)

1 de março de 2014

Fuga

Hoje é dia de workshop no sítio do costume. O homem fica cinco horas sozinho com as miúdas, e sem carro, coisa nunca antes vista. Deixo-lhe leite para o biberão, não meu, que assim quis o destino e a minha preguiça, e a promessa de não ficar na conversa no fim do workshop. Por muito mal que isto me fique, estou deserta de me pisgar daqui para fora e só voltar à hora do jantar. Só tenho pena que o rádio do carro já não leia cds.

17 de fevereiro de 2014

Da eficiência

Domingo de manhã. De todas as coisas que se podem fazer a um domingo de manhã, visto que dormir deixou de ser opção há muito, nós escolhemos ir com a mais velha ver o Tom Sawyer. Como a mais pequena ainda mama, acaba por andar sempre atrelada e, por isso, nem sequer colocámos a hipótese de a deixar com alguém durante a manhã. Mas a pequena portou-se bem. Acordou já a peça decorria. Dei-lhe mama e aguentei-a caladinha durante uma boa meia-hora, o que foi um feito, tendo em conta que estávamos sentados ao lado de uma coluna ensurdecedora para os ouvidos de um bebé. A dez minutos do fim da peça, a Alice começa a choramingar. Nada de mais, nenhum choro desalmadado, apenas uma breve choraminguice de 3 segundos que não provocou nenhum voltar de pescoços nem "chiuuus" reprovadores. Vamos a ver, estávamos numa peça infantil, não era propriamente À Espera de Godot! Mesmo assim, estava já a preparar-me para sair com a choramingas, quando chega a Guardiã do Silêncio em Salas de Teatro Infantil (não sei se estão a ver a ironia...) pedir-me, se não me importasse, para abandonar a sala. Foram três segundos, senhores, três segundos e já estava a ser posta na rua em salvaguarda do bem-estar e decoro do público. E depois ainda dizem que em Portugal não se trabalha bem.

Quanto à peça, olhem, não sei bem. A mais velha diz que gostou, mas isso foi imediatamente antes da épica birra na casa-de-banho e depois ficou tudo assim meio desfocado para as duas.

14 de fevereiro de 2014

Provações

Aspirar o ranho do nariz da pequena Alice às 3 da manhã? Peanuts. A verdadeira provação começa às 8 da manhã, à mesa do pequeno-almoço com a pequena-grande Inês. O ignorante que cunhou a expressão "terrible two" não devia saber contar, de certeza, porque isto, meus amigos, aos três é que é. Só espero que quando a Alice chegar lá, já eu tenha aprendido o suficiente com os meus erros de parenting para conseguir deixar de me sentir tão má mãe. 

3 de fevereiro de 2014

Topless

Nunca eu pensei precisar da ajuda de uma Conselheira de Amamentação, mas é bem feita para não cantar de galo e achar que lá porque da primeira vez correu tão bem, da segunda também tem de correr. Já chorei, de dor e não só, já contactei a SOS Amamentação três vezes, já fiz esquemas na minha cabeça sobre a melhor forma de deixar de amamentar, já sorri para dentro só de pensar no primeiro copo de vinho tinto que vou poder beber logo a seguir, depois auto-flagelei-me mentalmente por pensar nisso, e agora estou na derradeira fase de dar mais uma hipótese à mama dorida para se pôr boa de vez e depois não se fala mais nisso. Em breve virá cá a casa uma senhora voluntária (avé a todos os voluntários do mundo!) para me mexer na mama mais uma vez. 

Uma pessoa tem filhos e perde qualquer pudor, qualquer vergonha de se apresentar nua perante seja quem for. Depois de no hospital ter tido as partes baixas remexidas por trinta e sete pessoas diferentes (número aproximado) - e já lá vão dois partos, façam-lhe as contas -, ter sido obrigada a fazer o primeiro chichi pós-parto com um enfermeiro (sexo masculino) ao meu lado a ver se eu não desmaiava, e depois ainda isto das mamas, meus amigos, já dou o corpo ao desbarato*.

Não fossem as mamas descaídas e no Verão até fazia topless.


* não é para ser levado à letra!