Ó lá! Daqui vai sair boa, pensei. Agucei o ouvido e pus-me à espreita.
Depois de folhear algumas páginas, ler meio desconfiado, virar e revirar o livro, o senhor entrega-o à menina, agradece e despede-se em jeito de lamento:
- Uma pobreza de espírito, este Pessoa. Estrofes irregulares, desritmadas, sem respeito pelas regras... Ai, que miséria! Os alentejanos é que valem a pena ler. A Florbela e esses. Agora o Pessoa... É que não há quem o entenda.
O empregado teve alguma dificuldade em conter o riso enquanto fazia a minha conta. E eu pus-me a pensar em todos os heterónimos de Pessoa. Se calhar, coitado, nem ele próprio se entendia, por isso é que teve de se recriar tantas vezes.
De qualquer maneira, sendo hoje o Dia Mundial do Livro, acho que deviam ir ler qualquer coisa. Não necessariamente Pessoa. Mas também pode ser.
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