28 de dezembro de 2013

Couchpotatos

Nós não temos televisão na nossa residência permanente. Para grande espanto dos senhores da Zon e da Meo quando lá vão a casa tentar impingir-nos pacotes mais baratos, foi uma opção consciente e informada e não sentimos falta nenhuma da mesma. Vemos as séries e os filmes que nós próprios escolhemos no projector, num ecrã gigante na parede, sentindo-nos como se estivéssemos no cinema, mas sem pausas para publicidade. A única coisa chata é que, durante o dia, temos de fechar os estores para conseguirmos ver alguma coisa, mas até a isso uma pessoa se habitua.
Em contrapartida, temos uma tevisão na nossa residência secundária (dito assim até nos faz parecer umas pessoas importantes e deveras abastadas...) onde nos refugiamos no Natal, no Carnaval, na Páscoa, practicamente em todos os fins de semana no Verão e, fora isto, sempre que podemos e nos apetece.
Não é, no entanto, um televisor qualquer. É um daqueles plasmas ou LCD (não sei a diferença) xpto de muitas polegadas que faz praticamente tudo menos fritar pastéis de bacalhau. E nós gostamos muito deste televisor xpto. Tanto que está praticamente sempre ligado, o que é um autêntico contra-senso, se tiverem lido ali o primeiro parágrafo. Mas como é só em alguns fins de semana a gente não se importa e finge que não há problema em deixar a miúda ver o canal Panda como se não houvesse amanhã.
Quando viermos para cá viver definitivamente, contudo, estamos a pensar num esquema para remeter a televisão para segundo plano, escondendo-a atrás de um armário concebido para o efeito ou engenhoca semelhante, pois estamos conscientes de que a televisão exerce um poder maléfico sobre nós, uma espécie de magnetismo que nos faz ficar vidrados, grudados, siderados a ver qualquer porcaria que nos alheie da realidade. Ok, qualquer porcaria não. O programa do gordo continua a despertar em mim instintos homicidas... Urge, portanto, controlar a televisão antes que ela nos controle a nós.
Mas, enquanto isso não acontece, descobri que se tivesse uma televisão que só sintonizasse os canais Nat Geo Wild e Travel Channel (e o AXN, pronto...), era uma pessoa feliz.
De modos que hoje, e era isto que eu vinha aqui dizer, quando estava a ver um programa no Travel enquanto dava de mamar, dei por um daqueles erros de tradução que, se não o tivesse lido com os meus próprios olhos, não acreditava. O tradutor traduziu chopsticks, os famosos pauzinhos chineses, como "pauzinhos de porco". Ainda tentei perceber se os pauzinhos acompanhavam algum prato com porco (não!), mas mesmo que assim fosse continuava a não fazer sentido. É daquelas situações em que o tradutor ou tem uma imaginação muito fértil ou tantas horas de trabalho em cima que começa a juntar vários pensamentos numa só frase (Aqui tem os seus pauzinhos. Mas o que me apetecia mesmo era uma bela entremeada!). Felizmente, ou infelizmente, como se verá a seguir, o programa acabou logo de seguida e mudei para o AXN. Aquilo que vi/li a seguir parecia retirado das listas de exemplos de más traduções/legendagens que me davam na pós-graduação em legendagem que tirei antes de ser mãe (numa outra vida, portanto). Ele eram erros ortográficos, elipses idiotas e/ou negligentes, falta de pontuação ou vírgulas a mais, mau entendimento do original e escolhas de tradução duvidosas, o que indicava que não tinha havido qualquer revisão ou controlo de qualidade do original. 
Casos destes, além de irritarem os espectadores que percebem o original e gostam de acompanhar com as legendas, só servem para denegrir a imagem do tradutor- legendador, é um facto, mas há que ter em conta que muitas vezes se trata de profissionais explorados, mal pagos e que têm de entregar o trabalho dentro de prazos ridículos. Já uma vez mandei um e-mail a este canal por cabo para me queixar da má qualidade das legendas, naquilo que foi indubitavelmente um episódio legendado à pressa (por azar deles, era uma série alemã, o que fez redobrar a minha atenção), mas, curiosamente, não recebi qualquer resposta. 
Não sabendo se é este o caso (tradutor escravizado) ou se as pessoas em questão apenas prestaram um mau trabalho por desleixo e falta de brio (que as há), lanço uns quantos suspiros de desdém e desligo o aparelho, concluindo apenas que ver televisão faz, efectivamente, mal ao coração.

2 comentários:

  1. fico muito contente que escrevas sobre os dois lados da moeda. geralmente, o mais fácil é apontar o dedo. as pessoas tendem a esquecer-se que falam de outras pessoas, que também têm dias maus, problemas e muitas vezes trabalham em condições desumanas.
    obrigada por este post.

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    1. Também eu já trabalhei em condições menos humanas, por isso falo com algum conhecimento de causa... Obrigada eu :)

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