16 de maio de 2013

O lobo mau e outras histórias




Desde que comecei a ler histórias à pequena à hora de deitar, que me preocupo em "ler-lhe" só aquilo que interessa. Ou seja, as histórias infelizes que apareceram lá por casa, que ela é que escolhe para ler, que eu nunca recuso (mas devia!) e que ainda ninguém se lembrou de considerar como altamente nocivas para menores de 8 anos, como o Pequeno Polegar (história de uns pais pobres que, por não terem dinheiro, decidem abandonar os seus 7 filhos na floresta não uma, mas duas vezes!) ou o Capuchinho Vermelho (história de uma menina que, por ter desobedecido às ordens da mãe para não ir pela floresta, acaba perseguida por um lobo que a quer comer e vê a sua avó ser sacada da barriga do dito - macabro, para dizer pouco!), têm um desenlace completamente diferente quando lidas por mim.
Ou tinham.

Até há bem pouco tempo, o lobo não comia a avó, estava era atrás dos queques de laranja que a Capuchinho levava no cesto e tinha combinado com a avó, de quem era amicíssimo, pregar um valente susto à Capuchinho, mas na mais inocente das brincadeiras. A avó estava escondida no pomar por trás da casa a rir-se à socapa e o caçador apareceu ali por um mero acaso, não sendo caçador, coisa nenhuma, mas um inocente observador de pássaros.
Quanto ao Pequeno Polegar, os irmãos tinham decidido iniciar, sozinhos, uma excursão pelo bosque à procura de um tesouro escondido no palácio do gigante para ajudarem os pais pobres. Tão simples quanto isto.

Mas alguém se lembrou de lhe ler a história do Capuchinho toda, na íntegra, sem tirar nem pôr, tal como vem no livro, a pensar que a miúda não percebe ou que as crianças são imunes à crueldade da selecção natural (ou não tão natural assim). De modos que, vai disto, um dia a pequena diz-me: "Não, mamã, o lobo comeu a avó."
...

A partir daí, depois de me ter gelado o sangue no corpo, não tive outro remédio senão ler a história original, poupando-a apenas aos pormenores mais sádicos. Dar um tiro no lobo mau?? Abrir-lhe a barriga? Santo deus. Já agora, não querem já pôr miúdos de 2 anos a ver o Saw?

Mas agora a cachopa não faz senão falar do lobo mau. É o lobo mau que está no parque escondido atrás da árvore, é o lobo mau que está na cozinha, debaixo da toalha da mesa, é o lobo mau que lhe vem tirar a chucha, fora todas as vezes que o vê e não me diz. 
Não lhe pressinto nenhum medo nas suas visões, parece-me, antes, que é algo que a diverte. De qualquer maneira, tento sempre amenizar-lhe futuros medos quando lhe digo que temos de dar maçãs e cenouras ao lobo mau (e nunca coelhos ou ovelhas, credo) porque ele só tem fome e não faz mal nenhum. Mas o tempo dos pesadelos aproxima-se. E cheira-me que já sei qual será o primeiro protagonista.

Agora que penso nisto friamente, acho que o melhor é dar sumiço a certos e determinados livros e chicotear-me cem vezes por ainda não o ter feito. A miúda ainda é muito novinha para alimentar o imaginário com monstros e bichos maus. Ele já tem medo de moscas, por deus! Moscas...

1 comentário:

  1. A minha também teve uma fase em que tinha medo de moscas. (Também estranhei.)
    A minha irmã contou uma versão do gato das botas 'a miúda totalmente diferente da historia original. Quando ela me pediu para lhe ler a historia, li o que la' estava, e ela fartou-se de me contradizer, que não era nada assim.
    Também não gosto nada de certas historias infantis. Sempre que posso, compro livros de autores portugueses contemporâneos - não sei porquê, mas costumam ser bem mais apropriadas para crianças pequenas.

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